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Mercados têm dois pesos, duas medidas


Diante da agenda mais fraca em termos de indicadores e eventos econômicos nesta sexta-feira, os mercados financeiros recompõem parte das perdas recentes, reduzindo a aversão ao risco, em meio à contagem regressiva pelo referendo no Reino Unido sobre a União Europeia (UE), no próximo dia 23. O risco do chamado “Brexit” vinha aumentado as incertezas nos negócios nos últimos dias, mas um tiro de misericórdia pode causar uma reviravolta no cenário. No Brasil, o tiro pode ter saído pela culatra, com os mercados domésticos ainda "dando de ombros" à gravidade já existente na crise política que envolve o PMDB e o governo interino de Michel Temer.

Por mais frígido que possa parecer, o ataque a uma parlamentar, ontem, reduziu o temor pelo “Brexit”, uma vez que Jo Cox, baleada e esfaqueada, era favorável à permanência da ilha britânica no bloco europeu e estava reunida com uma comunidade no norte da Inglaterra, antes da chegada do primeiro-ministro, David Cameron. A morte dela, horas depois, pode atrair adeptos, chocados com a evolução do tema no país. Por ora, as campanhas pró e contra foram suspensas por tempo indeterminado, o que também pode reduzir a adesão pela saída.

Diante disso, os ativos mais arriscados se recuperam, enquanto a busca por proteção esfriou. As principais bolsas saem dos níveis mais baixos em pelo menos quatro semanas, as commodities avançam, com o petróleo interrompendo seis dias seguidos de queda, e as moedas emergentes têm um rali, ganhando terreno ante o dólar.

O movimento praticamente zera as perdas semanais observadas na Ásia, na Europa e em Wall Street, após a suspensão da campanha sobre o referendo britânico pelo segundo dia e as apostas de que a intenção pelo "Brexit" deve recuar. Mas, é bom lembrar, os negócios tendem a seguir vulneráveis, uma vez que o pleito (e o povo) decidirá o resultado.

No Brasil, a pergunta que fica é: estivesse a delação do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva ou Dilma Rousseff como o personagem vinculado ao valor de R$ 1,5 milhão em recebimento de propina, a história seria outra? O documento de mais de 200 páginas não cita, em nenhuma linha, o nome da presidente afastada – ao contrário do de Michel Temer, que teve participação direta na administração da partilha; fato que não foi comprovado em relação ao ex-presidente.

Temer considera a delação de Machado “leviana, mentirosa e criminosa”. Em um teste para mensurar a repercussão das declarações e verificar a viabilidade de fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, hoje ou segunda-feira, o presidente interino convocou a imprensa ontem para fazer uma manifestação dura, em tom indignado. Para ele, quem comete tal “delito irresponsável não tem condições de presidir o país”.

Na noite de ontem, porém, novas revelações sobre as declarações do ex-presidente do Transpetro fizeram o Brasil cair na real, revelando uma perspectiva devastadora no ambiente político em Brasília. Afinal, pelo mesmo motivo de envolvimento de propina, com o delator citando repasse de R$ 1,55 milhão, caiu o terceiro ministro do governo interino. O agora ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves pediu demissão a fim de não criar constrangimentos a Temer.

Assim, uma nuvem negra paira sob o Palácio do Planalto, diante da acusação grave e direta envolvendo o presidente interino e seus principais aliados. Mas os mercados domésticos tentam se esquivar desse clima, deixando a bola com a sociedade para avaliar se mantém vazia a tentativa de novos protestos contra o governo interino. De qualquer forma, os investidores monitoram os desdobramentos da denúncia, que pode complicar a governabilidade do PMDB e, principalmente, o andamento de medidas importantes no Congresso.

No calendário doméstico do dia, saem uma nova prévia do IGP-M no mês e leituras regionais da inflação ao consumidor (IPC-S), ambos às 8h, além de indicadores industriais (11h). No exterior, destaque para as construções e as permissões de novas residências nos Estados Unidos, às 9h30, e também para a leitura preliminar do sentimento do consumidor norte-americana em junho, às 11h.

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