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China anima exterior, mas, no Brasil, política traz cautela


Após o apetite por risco impulsionar bolsas e commodities pelo mundo ontem, firmando o dólar abaixo de R$ 3,50 e mantendo a Bovespa acima dos 50 mil pontos, os números da balança comercial chinesa ampliam o movimento no exterior, diante dos sinais de que a segunda maior economia mundial está melhorando. O barril do petróleo se sustenta acima de US$ 50, nos maiores níveis desde julho de 2015, o que embala as moedas de países emergentes, ao passo que as ações mostram fôlego curto para novas altas.

No Brasil, os ativos estão devendo um ajuste, depois do rali recente com o esfriamento das apostas de aperto monetário pelo Federal Reserve neste mês. Mas nada parecer azedar o humor dos investidores. O mercado doméstico passou ileso ontem pelos pedidos de prisão feitos pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que atingem a cúpula do PMDB, protegendo-se do aumento da temperatura em Brasília, que está em ponto de ebulição.

Só que os negócios locais precisam aprender uma lição: não há como brigar com a Operação Lava Jato. Afinal, a ordem para prender quatro dos principais caciques do partido do presidente interino, Michel Temer, pode prejudicar votações de interesse do governo no Congresso, atrasando não só a pauta de medidas econômicas, mas também embaralhando o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

Com a cena política de volta aos holofotes, os negócios locais ainda precisam medir o efeito do comportamento dos mercados no exterior, onde o crescimento das importações da China em yuan pela primeira vez desde 2014 anima os investidores. As compras externas feitas pelo país em moeda local cresceram 5,1% em maio deste ano em relação a igual mês do ano passado, encerrando 16 meses de queda e contrariando a previsão de nova baixa, de 2,5%. Já as vendas para o restante do mundo avançaram 1,2%, também em yuan.

Em termos dolarizados e também na comparação anual, as importações tiveram leve baixa de 0,4%, no menor recuo desde 2014, enquanto as exportações caíram 4,1%, o que resultou em um superávit comercial de US$ 50 bilhões. Refletindo um yuan mais fraco, os números da balança comercial chinesa têm um desempenho melhor quando medidos em moeda local e reforçam a percepção de estabilização da economia, sinalizando que o pior já passou.

Ainda assim, a Bolsa de Xangai caiu 0,3% e Hong Kong perdeu 0,14%, enquanto Tóquio subiu 0,93%. No Ocidente, as principais bolsas europeias devolvem parte do rali da véspera, quando registraram a maior alta em duas semanas, ao passo que os índices futuros das bolsas de Nova York estão de lado, um dia após Wall Street encostar nas máximas históricas. Já as commodities e moedas correlacionadas têm ganhos firmes.

O fato é que os investidores evitam inferir muito mais do que o que já está contido nos dados de maio sobre o emprego nos Estados Unidos e nas denúncias da Lava Jato. Afinal, tanto um quanto o outro podem emitir sinais difusos, capazes de confundir os riscos iminentes para os mercados – seja em relação ao próximo passo do Fed ou à conclusão do impeachment.

A notícia de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney, que se juntam a Eduardo Cunha pela acusação de tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato, tende a redobrar a cautela. O pedido está sob análise do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki há pelo menos uma semana e o anúncio da decisão pode ser feito a qualquer momento – ou pode levar outros seis meses.

Caso confirmadas as prisões, serão dois votos a menos no Senado para o processo contra Dilma, além da ascensão de Jorge Vianna, do PT, à presidência da Casa. Seria um pesadelo completo para os mercados domésticos.

Mas enquanto avaliam os maus agouros para o afastamento definitivo de Dilma, os investidores recebem os indicadores e eventos econômicos do dia, que carregam a agenda local. O destaque fica com o resultado da inflação oficial do país em maio, que deve ganhar força pelo terceiro mês seguido.

A previsão é de que o IPCA suba 0,76% em maio, o que, se confirmado, será a taxa mais elevada para o mês desde 2008 (+0,78%). Acima desse nível, o indicador só encontra teto no resultado de maio de 1996 (+1,26%). Por sua vez, a taxa acumulada em 12 meses também deve acelerar a 9,30% no período até o mês passado, mas deve seguir abaixo dos dois dígitos pelo terceiro mês consecutivo.

Os números tendem a calibrar o momento em que pode ter início um ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic). Contudo, os preços vêm tendo um repique nas leituras mensais e a nova composição do Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter uma postura conservadora, no aguardo de uma trajetória mais benigna da inflação.

Aliás, hoje o Copom deve manter a Selic em 14,25% pela sétima vez consecutiva, por unanimidade. Ainda assim, o juro básico no país está no maior nível desde agosto de 2006.

Também chama atenção a pesquisa da CNT/MDA sobre o atual cenário político-econômico no Brasil. O documento sai as 11h e traz a avaliação da população sobre emprego, renda, saúde, educação, segurança, entre outros itens. Porém, as perguntas sobre a avaliação geral do governo interino e pessoal sobre Temer, não foram incluídas no levantamento. Há quase um mês no cargo, a popularidade da nova gestão ainda não foi testada.

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