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Delações e declarações preocupam mercado


A volta do feriado no Brasil coincide com o fim de semana prolongado nos Estados Unidos, neste dia de comemoração pelo Memorial Day, com muitos ainda de “ressaca” por causa das declarações contundentes da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, na última sexta-feira. A data de hoje marca o início do verão norte-americano e mantém Nova York fechada, deixando os negócios locais à deriva, envoltos à onda de incertezas que surgiu após uma nova rodada de gravações telefônicas envolvendo lideranças do PMDB e ministros do governo interino de Michel Temer no âmbito da Lava Jato.

Ontem à noite, um áudio divulgado na televisão mostra o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, criticando a Operação da Polícia Federal e orientando investigados - como o presidente do Senado, Renan Calheiros - a não entregar a "versão dos fatos" à Procuradoria-Geral da República. Sem trégua na crise política, os investidores já se preparam para a segunda baixa no governo Temer em menos de 20 dias.

Pouco a pouco, os detalhes revelados pela delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado deixam os mercados domésticos apreensivos, com os áudios vazados podendo ter impacto – ainda imprevisível - para o governo interino e, principalmente, aos esforços em fazer a andar a pauta econômica no Congresso. Afinal, o clima para as votações mais críticas para a recuperação da economia não está nada favorável.

Assim, os parlamentares podem se ver obrigados a acelerar outra pauta - a do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff - antes que a crise das gravações, ainda em estágio embrionário, atinja a popularidade do presidente em exercício, Michel Temer e enfraqueça a base aliada, dificultando a saída definitiva dela do cargo. Hoje, o relatório sobre outra cassação, referente ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, será divulgado e pode trazer uma punição mais branda.

O mercado olha com apreensão para esse novos vazamentos vindos de Brasília, ciente de que o placar da primeira votação no Senado, que afastou Dilma por até 180 dias, não é largo o suficiente para garantir, com folga de votos, a tese do impeachment. Nesse campo minado e sem a referência dos negócios em Wall Street, o que enxuga a liquidez do dia, os investidores têm pouco espaço para ajustes de fim de mês.

Ao contrário, a tendência para hoje é manter o ritmo recente, que elevou o dólar para a faixa de R$ 3,60 na sexta-feira e manteve a Bovespa abaixo dos 50 mil pontos pelo quinto pregão consecutivo, em meio às retiradas de recursos externos em maio, que já se avolumam em quase R$ 2 bilhões. A fala da presidente do Fed naquele dia espremido entre os feriados teve seus efeitos e ecoa nos negócios ainda hoje.

Afinal, Yellen deixou claro que junto com a chegada das férias de verão (no Hemisfério Norte), vem também um novo aperto dos juros norte-americanos. Ela se esquivou em atenuar as preocupações do mercado financeiro e reforçou o coro de outros dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), dizendo que o Fed irá elevar os juros em breve.

Yellen evitou dizer quando – se em junho ou em julho - e limitou-se em falar que os juros vão voltar a subir "nos próximos meses", com esse movimento ficando condicionado à evolução dos indicadores econômicos. Para ela, a recuperação norte-americana é lenta, mas existe.

Na curva a termo dos Fed Funds, a precificação para uma nova alta em julho dobrou e superou os 50%, enquanto para junho, as chances estão ao redor de 30%, mas seguem vivas. E essa possibilidade de um aumento iminente nos juros norte-americanos abre espaço para um segundo aperto das taxas ainda neste ano, o que se torna a preocupação central para os mercados no exterior.

Essa perspectiva cada vez mais presente de novos passos no processo de normalização da taxa de juros nos EUA fortalece o dólar, ao mesmo tempo em que deprime as commodities. O ouro cai pelo nono dia seguido, na maior sequência de perdas do ano, ao passo que o petróleo é negociado levemente abaixo de US$ 50 o barril.

Nas moedas, o dólar tem ganhos generalizados, com destaque para a queda do iene japonês à mínima em um mês e para o recuo do yuan chinês ao menor nível em duas semanas. O won sul-coreano lidera as perdas entre as moedas emergentes, tendo a companhia do ringgit malaio e do rand sul-africano.

Entre as bolsas, os índices futuros de Nova York ensaiam alta, mas as bolsas não abrem hoje. Na Europa, os mercados estão de lado, também sem a referência dos negócios em Londres, devido a um feriado no Reino Unido, e mostram fôlego curto para ampliar os ganhos firmes da semana passada. Já na Ásia, o sinal positivo prevaleceu, com destaque para o avanço de mais de 1% em Tóquio, após relatos de que o aumento do imposto sobre vendas no Japão deve ser adiado.

As atenções no exterior se voltam, agora, para a divulgação do relatório oficial do mercado de trabalho nos EUA (payroll) referentes ao mês de maio, na sexta-feira. O documento pode calibrar de vez as apostas sobre os próximos passos da política monetária norte-americana.

Também merece destaque, a reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, que não deve trazer novidades em relação aos estímulos na região da moeda única. Ao longo da semana, serão conhecidos dados sobre a atividade industrial na zona do euro, China, EUA e Brasil.

Mas o destaque interno fica com o resultado, na quarta-feira, do Produto Interno Bruto (PIB) nos três primeiros meses de 2016, quando a economia brasileira deve ter atingido o fundo do poço. Números sobre o mercado de trabalho, as contas públicas e a indústria recheiam a agenda doméstica até sexta-feira.

Hoje, saem o IGP-M deste mês (8h) e a Pesquisa Focus (8h30). Outro ponto de relevo nesta segunda-feira é a participação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em um evento pela manhã na capital paulista.

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