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Surpresa com BC do Japão abala mercados


Dos três bancos centrais que se reuniram, entre ontem a tarde e esta madrugada, nenhum agiu. Mais que isso, todos eles adotaram a postura de esperar de ver, dando poucas pistas em relação aos próximos passos na condução da taxa de juros. Enquanto o Federal Reserve deixou a porta aberta para um aperto das condições monetárias em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) foi muito claro ao dizer que não há espaço para uma flexibilização, apesar da decisão unânime de manter a Selic. Já o BC do Japão (BoJ) frustrou os investidores ao não fazer nada, abalando os mercados financeiros.

O BC japonês hesitou em expandir os estímulos monetários, com o presidente Haruhiko Kuroda e seu colegiado optando por esperar mais um tempo para avaliar o impacto dos juros negativos no país. A autoridade monetária avalia que o custo de empréstimo irá diminuir, após a adoção da taxa de -0,1% em janeiro, acelerando a concessão de crédito.

Assim, foi mantido em 80 bilhões de ienes o programa de recompra de bônus e de ações. Já a previsão para alcançar a meta de inflação de 2% foi adiada pela quarta vez em um ano, para "algum momento no ano fiscal de 2017". Em reação, a Bolsa de Tóquio desabou e perdeu 3,61%, diante do salto do iene, que alcançou o maior nível em oito meses ante o dólar.

O choque provocado pelo BoJ atingiu os demais mercados na Ásia e contamina os negócios no Ocidente. As principais bolsas europeias e os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas aceleradas, após o BC do Japão inesperadamente abster-se em adicionar estímulos. Nas commodities, o petróleo escorrega do nível mais alto em cinco meses, ao passo que o ouro acompanha os ganhos das Treasuries.

A decisão do BoJ minou a sensação de relativa calma que estava evidente nos mercados financeiros, após o Fed manter ontem a mensagem de aumento gradual nas taxas de juros norte-americanas. O BC dos Estados Unidos deixou a porta aberta para um novo aperto de 0,25 ponto percentual em junho, ao apontar uma melhora nos mercados globais e minimizar a recente fraqueza na economia dos EUA.

O destaque da reunião de ontem foi a substituição do trecho no comunicado anterior, que citava que “os desenvolvimentos econômicos e financeiros continuam a representar riscos”, pela afirmação de que, agora, irá “monitorar de perto” essa evolução. Com os mercados acionários pelo mundo próximos de máximas históricas combinados com a recuperação dos preços das commodities e sinais de estabilização da economia chinesa, além da queda do dólar e dos rendimentos dos bônus corporativos, ficava difícil manter aquela avaliação.

Olhando para a economia doméstica, o Fed avalia que as condições do mercado de trabalho melhoraram, apesar do abrandamento da atividade. O consumo privado também mostrou moderação, embora a renda real das famílias tenha aumentado, e o sentimento do consumidor segue elevado. Porém, os sinais suaves (“dovish”) da autoridade monetária surgem quando a inflação entra em discussão, já que os índices de preços e as expectativas seguem baixas.

Os indicadores econômicos dos EUA previstos para hoje e amanhã podem clarear as sinalizações do Fed, calibrando as apostas para o próximo encontro. Nesta quinta-feira, as atenções se voltam para a divulgação (9h30) da leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) nos três primeiros meses deste ano. A previsão é de expansão de 0,6% ante o trimestre anterior, quando a expansão foi maior, de 1,4%. No mesmo horário, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país.

Por sua vez, o Copom emitiu sinais mais suaves (“dovish”) no placar unânime da decisão de manter a Selic em 14,25%, pela sexta vez seguida. Os dois votos dissidentes desde novembro, favoráveis à alta do juro básico, migraram para a manutenção da taxa, que passou a ser uma avaliação unânime.

Porém, ao trocar o texto do comunicado, reconhecendo os avanços no combate à inflação, ao mesmo tempo em que alerta para o nível elevado dos preços ao consumidor em 12 meses, bem como das expectativas inflacionárias, o BC avalia que não há "espaço para flexibilização da política monetária".

Ainda assim, o mercado doméstico deve reagir à perspectiva de corte nos juros à frente, uma vez que a atual composição do Copom pode estar com os dias contados. Afinal, em um eventual governo Temer, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles teria liberdade para montar e conduzir a equipe econômica, respigando na autonomia da autoridade monetária.

De qualquer forma, a “superequipe” pode chegar com alta credibilidade, com mudanças plenas da política econômica para um viés pró-mercado. Mas o otimismo dos investidores vai depender da formação clara dos ministérios e das medidas a serem tomadas, além da força da coalizão política (e social) do novo governo.

Contudo, mesmo com o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff do cargo, após vitória por maioria simples no plenário do Senado, o mercado doméstico ainda não precifica nos ativos o impeachment definitivo. As estimativas apontam 50 votos favoráveis, de 54 necessários. Os demais senadores dividem-se entre 20 votos contrários e 11 indecisos.

Hoje, às 16h, acontece a sessão de apresentação da acusação, na comissão especial do impeachment, composta pelos juristas que entram com o pedido contra o mandato de Dilma. Entre os indicadores, o IGP-M (8h) de abril deve apresentar nova desaceleração, para a faixa de 0,40%. Destaque ainda para o resultado primário do governo central (BC, Previdência e Tesouro) em março, às 14h.

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