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Mercados fogem do risco


A fuga dos ativos de maior risco, vista ao final da sessão doméstica de ontem, pode ter continuidade hoje, diante do sinal vindo do exterior, após o Banco Central do Japão (BoJ) refrear-se em adotar mais estímulos. O iene avança, assim como o bônus do título japonês de 10 anos, ao passo que as bolsas caem e as commodities também. Esse movimento tende a potencializar o observado na véspera no Brasil, quando a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir um ministério azedou de vez o humor dos investidores.

Até então, a reação dos mercados brasileiros aos protestos contra o governo Dilma em todo o país não era exatamente o que os agentes financeiros esperavam. Com grande parte da mobilização nas ruas já tendo sido antecipada nos negócios locais, os investidores fizeram do dia seguinte às manifestações uma sessão para embolsar os ganhos recentes.

Com isso, o dólar voltou a ser negociado acima de R$ 3,65, as taxas de juros futuros recompuseram prêmios e a Bovespa caiu, após duas sessões de alta, devolvendo um pouco dos ganhos de mais de 15% acumulados apenas neste início de mês. Embora parte da culpa tenha sido atribuída ao exterior, onde o ambiente já não estava tão favorável ao risco, a questão é que, agora, os investidores aguardam os próximos passos da crise política.

A estratégia da oposição é de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff volta a ser o caminho mais viável para tirá-la do poder. Réu na Operação Lava Jato por unanimidade no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pretende instalar ainda nesta semana a Comissão Especial que irá analisar o processo contra o mandato dela.

O deputado aguarda o julgamento do recurso que ele mesmo apresentou no Supremo sobre o rito processual do impeachment no Congresso. O tema deve ser avaliado pelos ministros da Corte amanhã e, depois, a Casa deve demorar até 45 dias para tomar uma decisão.

Nesse período, o principal partido da base aliada deve decidir se fica ou se sai do governo. Essa corrida contra o tempo se dá porque os principais líderes do PMDB e do PSDB foram citados, por diversas vezes, em diferentes delações premiadas, ficando a sensação de que qualquer um pode ser preso a qualquer momento.

Por outro lado, o governo e o PT apostam em ato que contará com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para sexta-feira, a fim de mostrar “resistência ao impeachment” e “defender a democracia”. Lula, aliás, aguarda decisão sobre o pedido de prisão preventiva, que agora será analisado pelo juiz Sérgio Moro, para decidir se assume ou não um ministério no governo.

A presidente Dilma já estaria tentando calcular o apoio da base aliada à entrada do ex-presidente no governo federal. A avaliação é de que pouco adiantará a ida de Lula para algum ministério sem o aval do PMDB. Relatos na imprensa dão conta de que ele deve ocupar a Casa Civil, comandada por Jaques Wagner, ou a Secretaria de Governo, de Ricardo Berzoini - a mais provável, onde assumiria também a articulação anti-impeachment.

Contudo, Lula deve apresentar condicionantes para entrar no governo, sendo que a principal delas é a mudança da política econômica. A condição não passaria por uma troca do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mas por uma política mais frouxa de ajuste fiscal, focada na retomada do crescimento.

Afinal, os protestos do próximo dia 18 dificilmente alcançarão um número similar de manifestantes, mas já sinalizam que pode haver uma “guinada à esquerda” de Dilma, atendendo às pautas dos movimentos sociais, ciente de que é preciso agir rápido e reavivar a economia. Aliás, a agenda econômica deve trazer hoje mais um dado desanimador sobre o mercado de trabalho no país.

A PNAD Contínua, que substitui a pesquisa do IBGE em regiões metropolitanas a partir deste mês, deve mostrar uma piora da população desocupada no país e na renda dos trabalhadores ocupados, além de uma menor oferta de vagas. O dado, referente a dezembro, será divulgado às 9h.

Trata-se do único dado doméstico do dia. Na safra de balanços, destaque para a Gerdau, que foi alvo da Operação Zelotes, recentemente, adiando, assim, a publicação do demonstrativo contábil. O resultado financeiro será publicado hoje, antes da abertura do pregão local.

No exterior, o calendário de eventos e indicadores nos Estados Unidos está carregado. Às 9h30, saem as vendas no varejo e os preços ao produtor (PPI), ambos referentes ao mês de fevereiro, juntamente com o índice Empire State de atividade industrial em março. Depois, às 11h, serão conhecidos os estoques das empresas em janeiro, além da confiança das construtoras neste mês. Por fim, às 17h, é a vez do fluxo de capital estrangeiro em janeiro.

À espera desses dados, os índices futuros das bolsas de Nova York também estão em baixa. Mas o grande destaque é o início da reunião de dois dias do Federal Reserve. As apostas são de que a taxa básica de juros nos EUA seguirá entre 0,25% e 0,50%, em meio às incertezas globais e à evolução dos preços no país. Mas as atenções estarão voltadas ao comunicado e à fala da presidente do Fed, Janet Yellen, que acompanharão o anúncio da decisão. O encontro trará ainda projeções atualizadas para atividade, juros e inflação.

No Japão, após a decisão inédita do BoJ, de adotar, em janeiro, juro negativo pela primeira vez na história, a autoridade monetária optou por manter as taxas e o programa de compra de ativos. Em reação, a Bolsa de Tóquio caiu 0,68%, contaminando os demais mercados asiáticos, à exceção de Xangai, que subiu 0,17%. O iene registra a maior alta em uma semana ante o dólar, afastando-se na liderança de melhor desempenho entre as moedas desenvolvidas.

Na Europa, as principais bolsas abriram em queda firme, penalizadas pela queda nos preços das commodities. As ações de mineradoras e petrolíferas conduzem as perdas na região, em meio ao recuo do petróleo e dos metais básicos.

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