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Especulação com política continua


A política deve continuar ditando o tom dos mercados domésticos nesta semana, com os investidores calibrando as expectativas para os protestos marcados para o próximo domingo (13), após a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Polícia Federal, na última sexta-feira, trazer um clima de euforia nos negócios. A Bovespa garantiu o maior ganho semanal desde 2008, com alta de quase 20%, e fechou no maior nível desde outubro, ao passo que o dólar já vale R$ 3,75.

Foi o capital especulativo, agora que o Brasil deixou de ser um país para investimento, que comandou esse desvio dos ativos. Não se pode ter certeza se esse comportamento fora do que é considerado padrão já se esgotou. Vai depender do apetite dos investidores estrangeiros e dos desdobramentos nesta semana no front político, que pode culminar em uma ruptura oficial entre PMDB e PT; delação do senador Delcídio do Amaral e rito do impeachment.

Ao final de uma semana especialmente ruim para o partido do governo Dilma, o engajamento dos brasileiros no protesto convocado para o dia 13 de março aumentou significativamente. Ao mesmo tempo, a PF chega em um momento crucial e pode ser ver em uma encruzilhada: ou há elementos fortes para as ações dirigidas diretamente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou será desmoralizante para a Operação Lava Jato.

Hoje, a presidente Dilma deve-se reunir com Lula, em encontro que não está previsto na agenda oficial da Presidência. Na pauta, a definição de um caminho a ser percorrido, lado a lado, neste momento, para enfrentar a crise político que atinge a ambos.

Pela manhã, Dilma participa de cerimônia de entrega de imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida. Em seguida, retorna para Brasília, onde deve se encontrar com Lula. Já o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, recebe representantes de associações do mercado de capitais (Anbima), da indústria de base (Abdib) e do BNDES.

Entre os investidores, a agenda econômica desta segunda-feira está esvaziada e traz as tradicionais divulgações do dia: Boletim Focus (8h30) e balança comercial semanal (15h). Amanhã é a vez do IGP-DI de fevereiro. No dia seguinte, é a vez do IPCA do mês passado.

A expectativa é de desaceleração no índice oficial de preços ao consumidor no Brasil, ficando abaixo da faixa de 1%. Mas todas as atenções estarão na inflação de serviços, cuja trajetória é crucial para uma desaceleração da pressão de alta no varejo, ao mesmo tempo em que a perda de força dos preços administrados deve se manter.

Do lado da atividade, na quinta-feira saem as vendas no comércio varejista em janeiro, que deve seguir com desempenho negativo. Na sexta-feira, é a vez da pesquisa sobre a atividade no setor de serviços. Mas o grande destaque da semana fica com a ata da reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), na quinta-feira.

O encontro foi marco pelo dissenso, pela terceira vez consecutiva, indicando que os próximos passos do Banco Central dependerão da evolução da inflação e das expectativas inflacionárias. No documento, o Copom deve explicar o porquê retirou a referência sobre a “elevação” das incertezas domésticas e externas, mas segurou a Selic em 14,25%, pela quinta vez.

No exterior, após os dados mistos sobre o mercado de trabalho (payroll), o calendário econômico nos Estados Unidos está mais tranquilo. Com isso, atenções se voltam para a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, quando novas medidas de estímulo econômico devem ser anunciadas; e também para os indicadores vindos da China.

Entre hoje e amanhã, saem os dados do mês passado da balança comercial. É válido lembrar que fevereiro foi marcado pelo feriado do Ano Novo Lunar, o que deve ter prejudicado o desempenho das exportações e importações no país. Na noite de quarta-feira, serão conhecidos os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) na China também em fevereiro.

Já no fim de semana, é a vez dos números consolidados no bimestre da indústria e do varejo no país. Com as festividades de ano-novo, a China divulgará os dados acumulados por essas atividades entre janeiro e fevereiro. Durante o fim de semana passado, os líderes chineses estiveram reunidos em Pequim para os “dois encontros” políticos (两会 ou “Duas Sessões”) em que se definiu que um intervalo para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, entre 6,5% e 7%.

Foi a primeira vez desde 1995 que o governo chinês não traçou um alvo fixo para o crescimento econômico e o intervalo está abaixo da meta "ao redor de 7%" para 2015. Porém, o discurso do primeiro-ministro Li Keqiang foi firme em mostrar que a China irá priorizar o crescimento e o desenvolvimento da economia, com foco em infraestrutura e investimentos em ativos fixos. Mais de 300 projetos devem ser lançados até 2018.

Em reação, a Bolsa de Xangai fechou em alta de 0,50%, com as ações de transporte liderando os ganhos. A perda de força na queda das reservas internacionais da China, que encerraram fevereiro em US$ 3,20 trilhões, também trouxe alívio. A previsão era de que a US$ 3,19 trilhões. Nos demais mercados asiáticos, Tóquio subiu 0,32% e Hong Kong avançou 1,18%.

No Ocidente, porém, a agenda econômica norte-americana esvaziada hoje reduz o fôlego dos índices futuros das bolsas de Nova York, que exibem ligeiras perdas, a despeito dos ganhos do petróleo. As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, penalizadas pela queda das encomendas à indústria alemã em janeiro, em -0,1%, em mais um sinal de que a desaceleração global e os baixos preços domésticos de energia estão ferindo a maior economia da Europa.

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