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Mercados na terra dos ursos


O pessimismo dos investidores levou o mercado financeiro em todo o mundo a entrar em território baixista (bear market, ou mercado do urso) ontem, com o colapso das ações de energia tendo, agora, a companhia dos bancos, em um movimento global de reprecificação dos ativos, que vai além das bolsas, atingindo também moedas, bônus e commodities. Porém, o apoio da Opep no corte da produção de petróleo, que ontem atingiu a mínima em 12 anos, pode acalmar o nervosismo nos negócios hoje.

Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta nesta manhã, embalando a abertura do pregão na Europa, em meio ao salto nos preços do petróleo desde ontem à noite, após os países-membros do cartel da Opep afirmarem que estão prontos para reduzir a produção. A commodity avança desde o fim do pregão da véspera em Wall Street e exibe ganhos na faixa de 4%, mas com o WTI ainda abaixo de US$ 30 o barril.

Ainda assim, a recuperação do petróleo não foi suficiente para aliviar a pressão vendedora na Ásia, após o índice MSCI de todos os países do mundo cair 1,3%, acumulando perdas de 20% desde maio e atingindo o maior recuo desde a crise das dívidas soberanas na Europa, em 2011. A Bolsa de Tóquio caiu 4,84%, registrando a pior semana desde 2008, em meio à percepção dos investidores de que os principais bancos centrais globais podem falhar na tentativa de reavivar a economia global.

O iene, por sua vez, registrou as duas melhores semanas desde 1998, diante da busca por proteção nos ativos. Ainda na Ásia, a Bolsa de Hong Kong recuou 0,9% e a de Seul teve baixa de 1,4%, enquanto na Austrália, a Bolsa de Sydney caiu 1,2%.

Entre as demais moedas, o dólar neozelandês, o ringgit malaio, baht tailandês e o won sul-coreano perdem terreno para o dólar, que também é tido como um refúgio seguro. De um modo geral, os mercados emergentes caminham para a pior semana em um mês, com a deterioração da perspectiva para a economia mundial eliminando o apetite por ativos de maior risco.

No Brasil, a insistência do governo em fixar uma meta fiscal flexível e diminuir ainda mais o montante dos cortes orçamentários, em um momento em que o radar das agências de classificação de risco está concentrado no país, azedou de vez o humor dos investidores. Esse sentimento, combinado com a aversão ao risco que prevalece no exterior hoje, tende a ampliar o movimento de queda da Bovespa e de alta do dólar, já observado ontem.

A notícia de que o anúncio dos cortes de gastos no Orçamento de 2016 foi adiado para março, ontem à tarde, caiu como um balde de água fria nos mercados domésticos. Os investidores já estavam descrentes quanto à capacidade do governo em cumprir a meta de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e viam com desconfiança a possível adoção de tal margem de flutuação para o superávit primário. Além disso, o corte nos gastos públicos, que inicialmente seria de R$ 80 bilhões, pode ser inferior a R$ 30 bilhões.

Da mesma forma, pegou mal o fato de o assunto ter sido discutido em reunião da junta orçamentária que foi realizada no Palácio do Planalto e contou com a participação da presidente Dilma Rousseff - algo incomum e que reforça a percepção de ingerência política. É válido lembrar que a Moody’s ainda não se manifestou sobre o rating do país desde a sua recente visita oficial, no início do mês. A agência é a única entre as três grandes do mundo que ainda mantém o selo de bom pagador (grau de investimento) do Brasil.

Entre os indicadores locais, a Fipe informou que seu IPC desacelerou levemente a 1,34% na primeira leitura de fevereiro, ante alta de 1,37% no dado final de janeiro. Às 8h, a FGV informa a prévia inicial do IGP-M no mês. No exterior, a agenda econômica ganha força hoje e pode dar pistas sobre a condução da política monetária pelos principais bancos centrais do mundo.

As atenções se dividem entre os números preliminares do PIB da zona do euro no quarto trimestre de 2015 (8h) e as vendas no varejo dos Estados Unidos em janeiro (11h30). O calendário econômico norte-americano também destaca a prévia deste mês da confiança do consumidor (13h).

O desempenho da economia na região da moeda única pode calibrar as apostas por mais estímulos pelo Banco Central Europeu (BCE) no mês que vem. Contudo, a política monetária de juros baixos na zona do euro tem agravado a situação dos bancos, que veem os spreads financeiros serem espremidos, ao mesmo tempo em que sofrem com um arrocho regulatório e são forçados a aumentar capital.

Por ora, já foi anunciado o PIB da Alemanha, que cresceu 0,3% nos três últimos meses de 2015, em dados sazonalmente ajustados. A taxa de expansão repetiu o verificado no trimestre imediatamente anterior e ficou em linha com a previsão. Assim, o número mostra certa resiliência da maior economia europeia, em meio à desaceleração dos países emergentes e à menor demanda global.

Já nos EUA, os dados do dia podem mostrar a disposição da população para o consumo, o que tende a gerar inflação à frente e ajudar no trabalho do Federal Reserve de atingir o alvo de 2% para os preços no varejo no médio prazo. A questão maior do Fed segue sendo a China, que volta aos negócios na virada para segunda-feira, podendo reavivar a turbulência nos mercados, em meio aos ajustes a serem feitos em Xangai após a pausa pelas festividades da chegada do Ano do Macaco. Mas isso é assunto para a semana que vem.

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