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Sexta-feira agitada, antes da pausa nos negócios


Antes de paralisar os negócios até a próxima quarta-feira, a sexta-feira promete ser agitada no Brasil. Com a China fechando as cortinas sem grandes alardes e ficando de fora do radar por uma semana, os olhos no mundo se voltam aos dados de emprego nos Estados Unidos (payroll) - sem descuidar do petróleo. Aqui, o foco está nos dados oficiais da inflação no país (IPCA), ao mesmo tempo em que a imprensa se mobiliza na expectativa de uma nova fase da Operação Lava Jato, em Atibaia (SP).

Desde ontem, quando a Bovespa saltou mais de 3% e o dólar renovou a menor cotação do ano, cotado abaixo de R$ 3,90 pela primeira vez em um mês, a cena política brasileira concentra as atenções dos investidores, animados com as denúncias de desvio de dinheiro cada vez mais próximas do Palácio do Planalto, e seus principais aliados. Informações em Brasília de que uma força-tarefa da Polícia Federal estaria preparando para hoje uma investigação, que teria como alvo Luiz Inácio Lula da Silva, tendem a manter esse humor.

Não se trata, no entanto, da prisão do ex-presidente. Mas sim de uma provável operação de busca e apreensão no sítio do empresário Jonas Suassuna em Atibaia, no interior de São Paulo, que era frequentado por Lula e sua esposa, Marisa Letícia. As especulações nos mercados domésticos são de que os supostos esquemas de corrupção podem facilitar o impeachment contra o mandato de Dilma Rousseff.

Tais apostas em relação ao afastamento da presidente ganharam um ingrediente extra na noite de quinta-feira, após a notificação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que ela e seu vice, Michel Temer, se defendam de uma das ações, impetradas pelo PSDB, que pede a cassação da chapa vitoriosa no pleito de 2014. A petista e o peemedebista têm sete dias para protocolar suas defesas.

Em contrapartida, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso decidiu, também ontem, abrir espaço para que a presidente Dilma se manifeste sobre o recurso apresentado na Câmara, que questiona o rito fixado pelo tribunal para o processo de impeachment. O Senado e o PCdoB também poderão ser ouvidos e as considerações poderão ser apresentadas até o dia 20.

Porém, com a paralisação dos negócios locais nos dois primeiros dias da semana que vem, enquanto lá fora seguirá funcionando, os investidores podem optar por adotar posturas mais defensivas hoje, à espera dos desdobramentos da deflagração da 23ª etapa da operação da PF. Afinal, os exageros na redução de posição vendida (aposta na queda) em bolsa e no desmonte de posição comprada (aposta na alta) em dólar parecem incólumes à visita da Moody's ao país.

Aparentemente ninguém está preocupado com o provável rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco - a única, entre as três grandes, que ainda mantém o selo de bom pagador do país. Porém, uma inesperada (e também improvável) decisão de rebaixar o rating soberano em mais de um degrau provocaria uma forte correção nos preços dos ativos locais, ventilando, de quebra, os próximos passos da Fitch e da Standard & Poor's (S&P).

Na agenda do dia, dados de inflação no Brasil em janeiro chamam a atenção. Logo cedo, a FGV informa o IGP-DI (8h), que deve acelerar fortemente, para uma alta de 1,30%, em meio à pressão dos preços no atacado e no varejo. Depois, às 9h, o IBGE informa a primeira leitura do ano da inflação oficial no país ao consumidor, medida pelo IPCA, que deve seguir salgada, realimentando as apostas em relação ao Copom.

A estimativa é de alta de 1,10% em janeiro, com o indicador impactado pelo reajuste nas tarifas de transporte público e também pelo aumento nos preços de alimentos. Ainda assim, em janeiro de 2015 o dado subiu mais (+1,24%), o que deve permitir um recuo na taxa acumulada em 12 meses, para a faixa de 10,5%, de 10,6% ao final do ano passado.

Os números tendem a reavivar a discussão em relação à condução de política monetária pelo Banco Central, movimentando a polêmica após a decisão em manter a Selic estável no primeiro encontro do ano. Da mesma forma, o relatório oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll), que sai às 11h30, tendem a calibrar as apostas sobre o próximo aperto nos juros dos EUA pelo Federal Reserve.

A expectativa é de criação de 190 mil vagas no país em janeiro, o que representa cerca de 100 mil postos a menos que o criado em dezembro, mas ainda sinaliza um patamar mais equilibrado – e saudável – do emprego nos EUA. Será a primeira vez desde setembro que a maior economia do mundo abrirá menos de 200 mil vagas em um mês, o que pode manter uma pressão vendedora no dólar em nível global hoje.

Já a taxa de desemprego deve permanecer em 5%, próxima do nível considerado “pleno emprego” pelo Fed. No mesmo horário, saem os números da balança comercial norte-americana; às 18h, é a vez do crédito ao consumidor – ambos referentes ao mês de dezembro.

Por ora, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em baixa, o que contamina a abertura do pregão na Europa, em meio aos sinais de cansaço do petróleo, que não encontra fôlego para ir muito além dos US$ 30 o barril. As demais commodities metálicas não exibem um rumo único.

Na Ásia, a China fechou as cortinas do ano da cabra de madeira com ligeira perda de 0,65% em Xangai. Os investidores optaram pela cautela e realizaram lucros, deixando ainda um ganho semanal de quase 1,5%, já que o mercado acionário de lá ficará fechado por uma semana, sendo que no domingo sai o dado das reservas internacionais do país em janeiro.

A tentativa do Banco Central chinês (PBoC) em estabilizar o sistema monetário e evitar uma fuga em massa de capital externo deve ter resultado na queima de bilhões de dólares, mas as reservas do país ainda têm um volumoso saldo superior a US$ 3 trilhões. O yuan chinês teve leve alta hoje e subiu pela quarta semana seguida, na maior sequência de ganho semanal desde outubro de 2014, em meio à intensificação do controle de capital de Pequim.

Na verdade, o dólar foi o grande perdedor da semana, em nível global, registrando, nos últimos dois dias, a maior desvalorização frente aos rivais desde março de 2009. A queda apagou o rali da moeda norte-americana deste ano, diante dos sinais de perda de tração da economia dos EUA, o que deve adiar qualquer ação do Fed. A precificação na curva de juros não prevê mais nenhum novo aperto na taxa dos Fed Funds neste ano.

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