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BCs devem agir para resgatar mercados


Ao contrário da reação dos mercados domésticos ontem, que se sentiram "traídos" com o Banco Central brasileiro, os negócios no exterior se animam nesta sexta-feira, em meio a especulações de que os principais BCs globais vão expandir as medidas de estímulo, o que provoca um ressurgimento do apetite pelo risco. O petróleo registra o maior ganho em dois dias e as moedas de países emergentes se beneficiam da menor busca por refúgios, ao mesmo tempo em que as bolsas exibem ganhos pelo mundo.

A Bolsa de Xangai pegou carona nos ganhos da véspera em Wall Street e subiu 1,3% hoje, embalada também por declarações do vice-presidente chinês, Li Yuanchao, de que a China está disposta a continuar intervindo no mercado de ações, que “ainda não está maduro”, para “cuidar” dos investidores,. Para ele, o aumento da regulação irá evitar um excesso de volatilidade - mas não há qualquer intenção em desvalorizar mais o yuan chinês.

Na semana, o índice Xangai Composto acumulou ganhos de 0,5%. Os demais mercados asiáticos também subiram, com destaque para o salto de 5,88% na Bolsa de Tóquio, na maior alta em quatro meses, que retirou o mercado japonês do território baixista (bear market), em meio a relatos de que o Banco Central do Japão (BoJ) também estaria considerando afrouxamento monetário adicional. Hong Kong teve alta de 2,97%.

Nos mercados emergentes, as bolsas se recuperam do nível mais baixo em seis anos e devem ao menos zerar as perdas acumuladas na semana, em meio às apostas de que a cavalaria dos bancos centrais está vindo para resgatar os ativos mais arriscados, com ações mais suaves ("dovish"). A Bolsa da Índia subiu 1,2%, saindo da mínima desde maio de 2014, ao mesmo tempo que as ações na Tailândia, Filipinas e Malásia também avançaram.

Entre as moedas, o ringgit malaio e o won sul-coreano se fortaleceram, registrando os maiores ganhos semanais em meses. Entre as commodities, os contratos futuros do petróleo retomam a marca de US$ 30 o barril, com ganhos acelerados, na faixa de 5%, dando os primeiros sinais de correção dos "exageros", após escorregar à mínima em 12 anos. Os metais básicos têm sinal positivo.

O aumento das especulações sobre mais estímulos por parte dos BCs começou ontem, após declarações do presidente da autoridade monetária na zona do euro, Mario Draghi. As palavras do comandante, de que “não há limites” para o que o BCE pode fazer a fim de estimular a economia real, produzindo um resultado “espetacular”, ainda ecoam nas principais bolsas europeias e nos índices futuros em Nova York, que seguem com ganhos firmes nesta manhã. O euro, por sua vez, perde terreno ante o dólar e o iene.

Já no Brasil, a sensação dos investidores com o BC local é exatamente oposta. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira sugeriu que o BC está cada vez mais preocupado com a deterioração da atividade – julgando que, talvez, não haja ancoragem das expectativas de inflação mais efetiva que a brutalidade da atual crise. Essa percepção, mesclada com a suspeita de ingerência do governo na decisão, levou os investidores a refazer suas apostas, passando a projetar a Selic estável em 14,25% por mais tempo – talvez ao longo de 2016.

Após os mercados domésticos se ajustarem à reviravolta do Banco Central, os investidores recebem hoje a prévia da inflação oficial no país em janeiro, medida pelo IPCA-15, que deve seguir “salgada” – mas não que isso irá mudar, de novo, a comunicação da autoridade monetária. Afinal, depois de estourar a meta em 2015, já nos dois dígitos, os preços no varejo devem ser pressionados neste mês pelos reajustes nas tarifas de transporte público.

A expectativa para o dado, a ser divulgado às 9h pelo IBGE, é de desaceleração a 0,90%, de +1,18% em dezembro. Ainda assim, será o maior resultado para meses de janeiro desde 2003, quando o IPCA-15 saltou 1,98%. Com o resultado, a taxa acumulada em 12 meses deve ganhar força e ir a 10,75%, também no maior nível para o período desde 2003.

De qualquer forma, o resultado não deve influenciar nos negócios locais hoje. Até porque o BC colocou na conta do exterior a razão principal para segurar o juro, apoiando-se, principalmente, na desaceleração econômica da China (a mudança na composição de crescimento e seu impacto nos preços das commodities e na balança comercial dos países produtores e exportadores de matérias-primas), além da apreciação adicional do dólar (e o fluxo global de capital financeiro) diante do processo de normalização dos Fed Funds nos Estados Unidos, que apenas começou em dezembro.

Também atento a esse movimento global, que inclui ainda os fatores geopolíticos, Draghi, do BCE, disse que talvez seja preciso revisar e, possivelmente, ampliar, as medidas de estímulo à zona do euro em março. Isso porque, segundo ele, os riscos à economia do bloco da moeda única e de deflação na região aumentaram desde o começo do ano – afinal, os preços do petróleo já caíram 40% neste início de ano.

Pela manhã, saem dados da indústria da FGV (8h) e da CNI (11h). Entre os eventos de relevo, destaque para a entrevista coletiva que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, concede, a partir das 8h30, neste último dia do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Ele também participa de um painel sobre a América Latina, em Zurique, e retorna para Brasília, amanhã.

Já no exterior, dados de atividade na zona do euro, pela manhã, e nos Estados Unidos, no início da tarde, são destaque. A agenda norte-americana traz ainda, às 13h, indicadores antecedentes e vendas de imóveis existentes em dezembro. Na safra de balanços, saem os resultados financeiros da General Eletric.

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