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Barbosa assume a Fazenda sob desconfiança do mercado


Toma posse hoje, às 17 horas, o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no lugar de Joaquim Levy, cuja permanência à frente da Pasta durou somente um ano Legislativo. Ciente da desconfiança do mercado financeiro, Barbosa agendou uma conferência por telefone com investidores nacionais e estrangeiros para as 12 horas, antes de assumir o cargo, a fim de buscar acalmar os negócios locais hoje. Mas a tarefa não será fácil.

Na última sexta-feira, o dólar encostou em R$ 3,95 e a Bovespa fechou no menor nível do ano e desde abril de 2009, ainda em meio aos rumores de que o "estranho no ninho" Levy iria alçar voo - provavelmente de volta ao abrigo em Osasco, após ter sucedido ao mais longevo ministro da Fazenda no cargo. O maior temor dos investidores é em relação à substituição da austeridade pela política desenvolvimentista, que prioriza gastos públicos para impulsionar a atividade.

Desde o fim da semana passada, porém, Barbosa tem reiterado o compromisso com a estabilidade e o reequilíbrio fiscal, buscando um aperfeiçoamento da política econômica a fim de promover uma retomada mais rápida do crescimento do país. Na conversa com o mercado hoje, ele irá "apresentar sua estratégia e esclarecer dúvidas", depois de passar o sábado e o domingo reunido com sua equipe.

Ainda que a iniciativa do novo ministro tenha sido bem recebida pelos agentes econômicos, o mercado sempre teve reservas ao nome de Barbosa à frente da Fazenda. E esse clima de apreensão revestido de cautela deve permear os negócios nesta segunda-feira, lembrando que a partir de hoje o pregão na Bolsa brasileira vai até as 18 horas.

O ambiente externo tampouco está favorável para o apetite por risco, após o barril do petróleo Brent cair ao menor nível em 11 anos, diante das especulações de que o fornecimento do Oriente Médio para os EUA irá agravar um excesso recorde de oferta da commodity, em meio à disputa pela participação de mercado. Nesta manhã, o petróleo cai na faixa de 2% em Londres, retrocendo ao preço de 2004, e recua mais de 1% em Nova York.

Mesmo assim, os índices futuros das bolsas em Wall Street avançam nesta manhã, em uma tentativa de recuperação, após as fortes perdas registradas nos últimos dois dias, que levaram o Dow Jones e o S&P 500 aos menores níveis em três meses. Os ajustes pós-decisão do Federal Reserve ainda impactam os ativos, com as apostas de que a próxima alta do juro norte-americano ocorrerá em março de 2016.

Já as principais bolsas europeias abriram o pregão em baixa, com destaque para a queda livre da Bolsa de Madri, após os resultados inconclusivos das eleições na Espanha no domingo. Insatisfeitos, os espanhóis romperam com mais de 30 anos de bipartidarismo no país, ao garantir votos ao Partido Popular, do atual primeiro-ministro, Mariano Rajoy, mas sem a maioria absoluta necessária para governar.

O resultado sugere que o único partido capaz de formar uma coalizão com Rajoy seria seu rival histórico, os socialistas. Em reação, o IBEX 35 recua quase 3%, liderando as perdas no Velho Continente. O euro, por sua vez, segue cotado na faixa de US$ 1,08.

Na Ásia, o avanço do iene enfraqueceu a Bolsa de Tóquio, que caiu 0,37%, ao passo que Xangai avançou para o maior nível em três semanas, ao subir 1,76%, diante das apostas de que Pequim vai acelerar a reforma das empresas estatais. O rali chinês impulsionou os mercados emergentes, com o índice MSCI da região sustentando o quarto dia de ganho em cinco pregões.

A divergência na política monetária nos países em desenvolvimento, como Índia e China, em relação ao Fed, beneficia as moedas desses locais frente ao dólar. Porém, divisas correlacionadas às commodities, como o ringgit malaio, sofrem com os menores níveis em anos do petróleo.

Na agenda econômica desta segunda-feira, destaque para a nota do Banco Central sobre o setor externo em novembro, que deve mostrar um financiamento do déficit nas transações correntes via os investimentos estrangeiros no país. O documento será divulgado às 10h30. Antes, às 8h25, o BC publica o Boletim Focus. Às 8 horas, tem sondagem da indústria da FGV.

No exterior, o calendário do dia está mais fraco, mas ganha força já amanhã, quando sai a terceira e última leitura sobre o Produto Interno Bruto (PIB) nos Estados Unidos no trimestre passado. A previsão é de manutenção do dado anterior, de expansão de 2,1%. Na quarta-feira, sai o índice final sobre a confiança do consumidor norte-americano.

De volta ao Brasil, a semana reserva dados fiscais, a partir de amanhã. No dia seguinte, destaque para o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, que pode trazer pistas sobre a condução da taxa básica de juros (Selic) ao longo do próximo ano. Hoje, às 9h30, o ainda ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, reúne-se com o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini - horas antes da transmissão do cargo, que contará com a presença de Levy.

No lugar de Barbosa, assume Valdir Simão, atual ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) e auditor-fiscal da Receita desde 1987. Ele é mestre em gestão de sistemas de Seguridade Social, enquanto Barbosa é doutor em contabilidade pública. Ontem, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) divulgou nota em apoio ao dois novos ministros, dizendo que recebe "com satisfação os compromissos assumidos" por ambos e se coloca à disposição para "continuar trabalhando com a equipe econômica".

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