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Mercado atento aos próximos passos do impeachment


Passada a euforia dos mercados domésticos no dia seguinte à abertura do pedido de impeachment contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, os negócios locais se debruçam sobre os próximos passos. A intenção é de que tudo seja rápido, tal qual quer o próprio governo. Mas o processo pode ser moroso, abrindo espaço para uma correção dos “exageros” de ontem, que deve ganhar um ingrediente externo hoje, já que é dia de divulgação do relatório oficial de emprego nos Estados Unidos (payroll).

Apesar das leituras divergentes de economistas e analistas em relação ao anúncio feito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no fim da tarde de quarta-feira, a sensação deixada pelo mercado é de que o “tumulto” no cenário político era ruim e era preciso dar uma “chacoalhada” em Brasília para retomar a governabilidade, seja com a saída de Dilma ou com um fortalecimento dela no poder.

A alta da Bovespa, que encostou nos 5% durante o dia, e a queda do dólar, que ultrapassou 2% ao final da sessão, também foi vista com cautela. Afinal, a abertura do impeachment demanda maior prêmio pelo risco do Brasil, sendo que a lentidão até a votação tende a retardar uma pauta econômica importante. Mas até a suspensão do recesso parlamentar está sendo discutida, a fim de acelerar a velocidade do processo.

Ontem, a decisão de Cunha foi lida no Plenário da Casa e uma comissão especial deve ser instalada na segunda-feira, após um acordo com líderes partidários, que devem indicar os representantes de cada legenda até as 14 horas do próximo dia 7. Já a ofensiva deflagrada pela base aliada o Supremo Tribunal Federal (STF) sofreu as primeiras derrotas, com os ministros Celso de Mello mandando arquivar a ação e Gilmar Mendes negando o pedido.

Além disso, o afastamento de Dilma da Presidência não está em contemplado em nenhum cenário-base das agências de classificação de risco, podendo ocasionar novos rebaixamentos na nota de crédito soberano. Por ora, a abertura do processo tende a retardar novos downgrades, mas o temor é de que o rating brasileiro caía para o grau especulativo (“junk”) por uma segunda agência, provocando uma fuga de capital externo.

Mas a sexta-feira deve ser agitada, já que sai hoje o último grande indicador antes da reunião de dezembro do Federal Reserve. Pela primeira vez, o payroll não está sendo visto como crucial, após as sinalizações de que haverá mesmo um aperto dos juros neste mês. Assim, os dados de emprego nos Estados Unidos devem ajudar mais nas apostas sobre o ritmo de alta nos meses à frente do que no momento exato da primeira alta desde 20006.

Depois da decepção com o Banco Central Europeu (BCE), ontem, que entregou bem menos estímulos do que o esperado, havia um receio de que o BC dos EUA também hesitasse no início da normalização monetária, mas a comandante do Fed, Janet Yellen, tem se mostrado cada vez mais convicta sobre o aperto. O payroll será divulgado às 11h30 e a previsão é de abertura de 200 mil postos de trabalho no país em novembro, com a taxa de desemprego permanecendo em 5%.

No mesmo horário, sai também o saldo da balança comercial nos EUA em outubro. À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, recuperando das perdas de ontem, quando Wall Street sofreu a maior onda vendedora (selloff) em dois meses.

A queda no pregão norte-americano ontem atingiu em cheio os mercados na Ásia-Pacífico hoje, em meio à decepção com o presidente do BCE, Mario Draghi. A Bolsa de Tóquio recuou 2,2% e a de Sydney caiu 1,8%. Na China, Xangai e Hong Kong caíram ao redor de 1,5%, cada. Nos mercados emergentes, o sinal negativo prevaleceu nas bolsas, mas as moedas se recuperam em meio à divergência na política monetária nos EUA e na zona do euro.

A moeda única europeia perde terreno ante os rivais, com muitas divisas asiáticas, como o won sul-coreano, o baht tailandês e o ringgit malaio se fortalecendo também ante o dólar. O avanço do petróleo nesta manhã sustenta as moedas de países correlacionadas às commodities, em meio à expectativa pela decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que deve manter o status quo em relação à produção do óleo negro.

Já as bolsas da Europa, estão "de ressaca", após o tombo da véspera, quando o BCE anunciou uma expansão menor que a esperada do programa de estímulo monetário. Nem mesmo a alta acima do previsto nas encomendas à indústria alemã em outubro, de +1,8% ante setembro, interrompendo três meses consecutivos de queda, anima os negócios da região. Dados sobre o varejo na zona do euro saem ainda pela manhã.

No Brasil, o calendário econômico está mais fraco e traz apenas os números da indústria automotiva compilados pela Anfavea. No front político, a presidente Dilma recebe o presidente eleito da Argentina, Maurício Macri, às 10 horas. Já o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reúne-se com representantes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), na sede da entidade, em São Paulo, às 15 horas.

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