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Dados e BCs


A primeira semana de maio foi intensa, em termos de divulgação de indicadores econômicos relevantes, com os investidores ávidos por pistas quanto a decisões futuras de política monetária. Mas enquanto calibravam as apostas em meio às dúvidas quanto aos próximos passos dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, na esteira da divulgação, na sexta-feira, de números sobre a inflação e o emprego nesses países, respectivamente, a China não esperou.

Depois da decepção com a balança comercial chinesa em abril, na quarta-feira, e dos dados comportados sobre os preços no atacado e no varejo do país, no sábado, o BC chinês (PBoC) anunciou neste domingo um novo corte nas taxas de juros - na terceira redução em seis meses. A estratégia da autoridade monetária é de se voltar para custos de crédito mais barato e reforçar os empréstimos, estimulando a demanda doméstica.

O PBoC informou que, a partir desta segunda-feira, a taxa de empréstimo de um ano será 0,25 ponto porcentual menor, a 5,1%. Da mesma forma, a taxa de depósito de um ano sofreu a mesma redução, agora em 2,25%. Além disso, o teto da taxa de depósito subiu para 150% do valor de referência, de 130% antes.

Esta é a mais recente rodada de esforço do BC chinês, que, em novembro do ano passado, começou a adotar medidas para enfrentar a crescente pressão de desaceleração econômica do gigante emergente bem como os riscos severos de desinflação. Segundo a autoridade monetária, os cortes nas taxas irão reduzir os custos de financiamento e facilitar o desenvolvimento saudável da economia real, garantindo um ambiente monetário “modesto” em meio à estratégia em curso de reestruturar a economia.

Não se trata, portanto, de lançar mão de um programa de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês), nos moldes do que foi adotado, inicialmente nos EUA e, mais recentemente, no Japão e na zona do euro. Em editorial publicado na noite de sexta-feira, a agência estatal Xinhua afirmou que “apesar das especulações, a China não está se juntando ao ‘Clube do QE’”.

Ainda segundo o editorial, é amplamente aceitável que o PBoC injete mais liquidez no mercado interbancário. “Mas tal injeção de liquidez não é um QE”, pondera. Na verdade, acrescenta o texto, “o BC chinês vem injetando liquidez de modo mais agressivo desde o fim do ano passado, em um amplo esforço para manter um crescimento normal da base monetária, ao invés de fornecer liquidez adicional ao sistema”.

Ou seja, a situação atual na China é bem diferente. Lá, não há mercado ou sistema jurídico maduros o suficiente para implementar um QE.

Fed e BCB. Enquanto isso, os players seguem refazendo as contas em relação ao Federal Reserve e também tentam avaliar quanto mais de aperto monetário a economia brasileira suporta. Mas como as dúvidas em relação ao Fed e ao Bacen não são de mais estímulos, e sim de aperto, a tarefa das autoridades monetárias dos EUA e do Brasil pode ser mais árdua - uma vez que vai na contramão de grandes economias, ao mesmo tempo que a dinâmica da atividade interna ainda busca uma recuperação firme.

Resta saber quanto mais o Fed vai esperar para promover a primeira alta dos juros dos EUA desde 2006, após a queda da taxa de desemprego em abril no país ao menor nível desde maio de 2008, mas com uma abertura ligeiramente menor de postos de trabalho que o esperado e com a média mensal de contratações neste início de ano ainda abaixo do verificado ao longo de 2014.

E, internamente, quanto mais fôlego terá o BC local para carregar a Selic, uma vez que a taxa do IPCA em abril, embora no menor nível do ano, ainda acumula avanço de mais de 8% nos últimos 12 meses - a maior para o período desde dezembro de 2003 - e nos quatros primeiros meses de 2015 a taxa já ultrapassou a meta para o todo o ano e está em 4,56% - também a alta mais intensa para o período desde 2003.

Ao que tudo indica, em termos de política monetária, afrouxar parece ser mais fácil do que apertar.


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