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Mercados globais antecipam rali de fim de ano, em meio à “dobradinha” vacina contra covid-19 e postura suave do Fed e do Tesouro dos EUA durante o governo Biden
A véspera do feriado mais importante nos Estados Unidos (Thanksgiving) infla a agenda econômica norte-americana, ao mesmo tempo em que esvazia a liquidez do mercado financeiro, o que tende a aguçar o vaivém dos ativos ao longo do dia, testando o fôlego de alta dos negócios globais. Ainda mais considerando-se o recente apetite por risco, à medida que o cenário político na Casa Branca ficou mais claro e a chance de uma vacina eficaz contra a covid-19 parece iminente.
O otimismo externo favorece o Ibovespa, em meio à volta dos investidores estrangeiros à renda variável nacional. Os “gringos” colocaram mais de R$ 25 bilhões na Bolsa (mercado secundário) só em novembro, reduzindo o déficit de capital externo acumulado no ano para menos de R$ 60 bilhões - de quase R$ 90 bilhões negativos em 2020 até o início de outubro. No último dia 20, houve a primeira retirada de recursos nessa conta no mês.
Esse movimento antecipa o “rali de fim de ano” por aqui, praticamente anulando a desvalorização de quase 20% acumulada pelo Ibovespa no ano, e “cola” o desempenho das ações locais ao dos mercados globais. A perspectiva de novos estímulos fiscais e monetários nos EUA em um governo democrata, com a dupla Janet Yellen e Jerome Powell no comando, levou o índice Dow Jones a encerrar ontem acima dos 30 mil pontos pela primeira vez na história, embalado também pela “dobradinha” vacina-Biden.
Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm o tom positivo, porém, o fôlego de alta é mais curto, com os investidores ainda tentando encontrar uma razão por si só para a forte recuperação dos mercados em Wall Street, contaminando o mundo. Afinal, ao alcançar a marca simbólica, o Dow Jones está sendo negociado a quase 30 vezes o lucro por ação das empresas que o compõem - uma alta que ocorre apenas uma vez a cada geração.
Talvez por isso, os mercados internacionais diminuem um pouco o ritmo hoje, equilibrando o otimismo estimulado pela vacina e cena política nos EUA contra uma perspectiva econômica desafiadora em meio à pandemia, com as restrições para conter o aumento de infecções por coronavírus ameaçando a retomada da atividade global. As principais bolsas europeias abriram com leves ganhos.
Na Ásia, Xangai liderou as perdas (-1,2%), enquanto Hong Kong (+0,3%) e Tóquio (+0,5%) tiveram altas moderadas. Ainda assim, os mercados de ações da região Ásia-Pacífico registram o maior ingresso de capital externo desde 2013. Já o famoso MSCI de ações globais registra valorização de quase 13% em novembro, caminhando para o melhor mês desde que o índice referencial (benchmark) começou, em 1988.
Nos demais mercados, o barril do petróleo se sustenta acima da faixa de US$ 45, ao passo que o cobre é cotado no maior valor desde 2014, com as commodities industriais sendo beneficiadas pela queda livre do dólar. O juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) também recua.
O Risco é Local
No Brasil, o risco fiscal ainda pesa no dólar e nos juros futuros. Relatos de que o governo retomou as negociações para criar um programa social que irá substituir o Bolsa Família acenderam o sinal de alerta nos negócios locais. A proposta, a ser incluída no parecer da PEC Emergencial, precisa envolver corte de gastos e de subsídios para que a regra do “teto” seja mantida. Essas medidas, com foco nas despesas com pessoal, precisam ser aprovados neste ano para votar o Orçamento de 2021.
A paralisação no Congresso por causa das eleições municipais e os ruídos na articulação política do governo colocam em xeque o tempo hábil para a votação dessas matérias antes do recesso parlamentar. Até lá, não se pode descartar a possibilidade de Brasília surpreender o mercado financeiro nem de os investidores darem o benefício da dúvida ao Executivo e ao Legislativo. Afinal, como disse um economista de uma gestora, dias atrás, “a política nunca é um evento de certeza e tudo pode mudar em poucos segundos”.
Dia de agenda cheia
Não perca o fôlego com a bateria de dados econômicos programada para o dia. A boa notícia é que o calendário na zona do euro está vazio, concentrando as atenções entre os indicadores no Brasil e nos EUA. Por aqui, as divulgações começam cedo, às 8h, quando saem os índices de confiança na construção civil e do consumidor neste mês, além dos custos no setor imobiliário.
Depois, às 9h30, é a vez da nota do Banco Central sobre o setor externo em outubro, com números sobre investimentos estrangeiros no Brasil e sobre o saldo na conta corrente do país. À tarde, o BC volta à cena para divulgar os números parciais de novembro sobre a entrada e saída de dólares (fluxo cambial) do país. Também é esperado o relatório do Tesouro sobre a dívida pública.
Lá fora, o destaque da agenda norte-americana fica com a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano, às 10h30. No mesmo horário, saem os números sobre a renda pessoal e os gastos com consumo em outubro; os pedidos de bens duráveis no mês passado e as solicitações semanais de auxílio-desemprego. Às 12h, têm ainda dados do setor imobiliário e sobre a confiança do consumidor.
Na sequência, às 12h30, serão conhecidos os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA. Fechando com chave de ouro, o Federal Reserve publica, às 16h, a ata da última reunião, ocorrida no início deste mês, que podem lançar pistas sobre a possibilidade de estímulos monetários adicionais em dezembro, diante da frustração com um novo pacote fiscal antes das eleições no país.