Mercado evita trade “demitir Powell”
- Olívia Bulla
- há 2 dias
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O feriado extra no Brasil depois da Páscoa contrata um ajuste negativo no Ibovespa nesta terça-feira (22), após as bolsas de Nova York afundarem ontem. O dólar também derreteu, com o índice DXY atingindo o menor nível desde meados de julho de 2023. Assim, a recuperação ensaiada pelos mercados internacionais nesta manhã deve ser ignorada.
Como pano de fundo para esse movimento no exterior estão os ataques de Donald Trump, desta vez, contra o presidente do Federal Reserve. Os investidores reagiram à ameaça do presidente dos Estados Unidos de demitir Jerome Powell, levando à saída dos ativos norte-americanos. As Treasuries também tiveram um aumento acentuado ontem.
Em xeque está a independência do Banco Central dos EUA. Isso porque uma saída drástica e antecipada de Powell antes do fim do mandato, em maio de 2026, pode significar uma interferência da Casa Branca na atuação do Fed. Trata-se de uma alegação que os investidores no Brasil entendem bem, ainda mais quando se trata de governos de esquerda.
Para evitar comparações e reações exageradas, Trump estaria disposto a forçar a demissão de Powell. Mas dificilmente essa estratégia evitaria uma grande volatilidade nos mercados financeiros. O resultado seria o mesmo: queda em bloco das ações norte-americanas, venda generalizada dos títulos do Tesouro dos EUA e dólar despencando.
Isso porque não é apenas a natureza independente e duradoura do Fed enquanto instituição que está em xeque, mas também uma provável subversão completa do funcionamento do sistema financeiro global. Assim, qualquer cenário sobre a saída de Powell agora elimina o status do dólar como reserva e o valor de refúgio das Treasuries.
Mercado lê nas entrelinhas
Diante disso, os investidores amanheceram dispostos a simplesmente ignorar o cenário hipotético do que seria um trade do tipo “Powell demitido”. Ninguém quer brincar com isso. Essa postura explica a tentativa de melhora hoje. A mensagem dos mercados é clara: “não queremos soar o alarme sobre o risco de independência do Fed”.
Fato é que Trump continua repetindo a estratégia do seu primeiro mandato. Não é de agora que Powell sente a pressão no cargo. Assim como em 2018, foi o alerta de Powell na semana passada de que qualquer ajuste na taxa de juros dos EUA depende de maior clareza no cenário desafiador de inflação crescente e enfraquecimento do mercado de trabalho que desagradou o republicano.
A questão é que assim como a China está mais calejada da tática “morde-assopra” do republicano, Powell também está. Enquanto isso, os mercados estão, literalmente, pagando para ver. Afinal, o que Trump está dizendo grosseiramente é o que os mercados querem: o Fed precisa cortar a taxa de juros dos EUA porque a economia pode entrar em recessão.