Mercado entre coronavírus e estímulos
O mercado financeiro está dividido entre os estímulos jorrados pelos bancos centrais e o ressurgimento de casos de coronavírus na China e nos Estados Unidos. Porém, por mais que haja algum perigo em relação a uma segunda onda de contágio de Covid-19, a colossal liquidez global sustenta os ativos de risco. Os investidores se dão conta de que ainda não é o momento para remar contra essa maré, embora caiba examinar até que ponto a expansão monetária irá neutralizar os impactos econômicos-sociais da pandemia.
Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram no terreno positivo, apagando as perdas exibidas ontem à noite, quando sinalizavam uma pausa no rali. As principais bolsas europeias também abriram em alta, após uma sessão de ganhos na Ásia, onde apenas Tóquio caiu (-0,6%), reagindo ao tombo de quase 30% nas exportações japonesas, no maior recuo desde a crise de 2008. O petróleo interrompe dois dias de alta, enquanto o dólar mede forças em relação às moedas rivais.
Os investidores digerem notícias sobre os estímulos monetários e fiscais e o aumento preocupante no número de casos de coronavírus em países que reabriram suas economias. A China ampliou as medidas de restrição em Pequim, que inclui o cancelamento de mais de 60% dos voos comerciais, e elevou o nível de alerta na capital de 3 para 2. Nos EUA, a Flórida renovou recorde de novos casos de Covid-19, assim como o Brasil, que já passou da marca de 900 mil infectados e conta com mais de 45 mil óbitos.
Em contrapartida, a declaração do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que pode ser necessário um novo pacote fiscal, ainda que mais modesto, para revitalizar a economia norte-americana em meio à lenta recuperação pós-pandemia renova as esperanças pela injeção adicional de recursos. Powell participa de nova audiência, desta vez, na Câmara dos EUA, a partir das 13h.
Ontem, durante depoimento no Senado, ele manteve o tom suave (“dovish”) na fala e repetiu a visão cautelosa sobre a retomada econômica nos EUA, apresentada após a reunião do Fed na semana passada, dizendo que é improvável uma melhora completa até que as pessoas estejam confiantes de que a doença foi contida. Ele voltou a alertar quanto ao possível dano a longo prazo e até permanente em relação ao emprego no país.
Hoje é dia de Copom
A expectativa, então, é de que Powell repita essa mensagem hoje, deslocando quaisquer novidades para a sessão de perguntas e respostas. Já no Brasil, quem manda nos mercados hoje é o Copom. O Comitê de Política Monetária anuncia a decisão sobre a Selic no fim do dia, o que deve manter os negócios com ações, moeda e juros futuros em compasso de espera ao longo da sessão.
Depois de o BC surpreender na reunião de maio com um corte mais intenso que o esperado na taxa básica de juros, de 0,75 ponto, e indicar que considera “um último ajuste, não maior” que o anterior no encontro deste mês, o mercado financeiro dá como certa a queda da Selic para 2,25%. A dúvida é se a porta seguirá aberta para cortes adicionais à frente.
Por isso, as atenções se voltam para o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, que pode trazer pistas em relação aos próximos passos. De um lado, há quem espere uma sinalização de interrupção do ciclo de cortes, de modo a avaliar o que já foi feito e o cenário à frente. De outro, há quem veja espaço para ajustes adicionais neste ano.
A ver, então, como o Copom vai balizar as próximas decisões em relação ao juro básico. A avaliação é de que a autoridade monetária deve levar em conta as consequências da Covid-19 nos mercados externos e na economia doméstica, levando também em conta as incertezas nos campos fiscal e político.
Entre os indicadores, mais um indicador de atividade no Brasil, desta vez, no setor de serviços será conhecido hoje (9h), referente ao mês de abril, ainda refletindo o estrago que a Covid-19 vem causando. Já nos EUA, saem dados sobre a construção de moradias em maio (9h30) e os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (11h30). Logo cedo, serão conhecidos índices de preços na Europa.