Japão e Vietnã não vão pagar o almoço do bife brasileiro que Trump pode taxar
- Giovanni Lorenzon
- 1 de abr.
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Infomercadosbr, por Giovanni Lorenzon
Qualquer coisa que venha de Donald Trump contra a carne bovina brasileira, se vier, a partir de quarta-feira (2) sob os auspícios das tarifas recíprocas, esqueça qualquer presunção do mercado sobre a compensação que o Japão e o Vietnã podem acabar dando.
Já andaram falando quase isso dias atrás.
Para o Brasil atingir as 300 mil toneladas potenciais que o país do Sudeste asiático pode representar, segundo o otimismo declarado da comitiva de Lula que por lá passou na semana passada, leva tempo.
Ainda assim, as chances são muito melhores do que se o Brasil for contar com a boa vontade japonesa.
Os vietnamitas certamente são menos exigentes e nem declararam se vão enviar autoridades para inspecionarem as plantas daqui. Ainda por cima, a JBS (JBSS3) está anunciando US$ 100 milhões numa planta local.
Mas atingir três centenas de milhar em exportações para lá é cenário para vários anos, se considerando que seja esse mesmo o potencial e que o Brasil de fato o alcançasse.
Já o Japão é uma história longa essa abertura. Vão mais de 20 anos. A visita a unidades exportadoras brasileiras, conforme a declaração conjunta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) não acontecerá antes do segundo semestre. Quiçá em 2025.
E, entre essas idas e vindas, que ainda seriam percussoras antes de que as chamadas inspeções técnicas - e seus potenciais ajustes posteriores -, um eventual “ok” é coisa para dois anos.
Na melhor das hipóteses, o Japão poderia aceitar mais prontamente a carne da JBS, Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), uma vez que são exportadoras para os Estados Unidos. E como o país de Trump fornece 35% do que o Japão consome, inclusive com parte da JBS USA, então se é bom para um poderia ser para o outro.
Muito pouco provável também, porque não significa, de resto, que o que os americanos exigem da carne importada satisfaça os complicados japoneses. Os exportadores brasileiros de frutas, aves e suínos sabem bem o que é isso.
Carne dura
Mas, assumindo que tudo saísse redondinho e em menos tempo rumo a esses quase dois vizinhos asiáticos, aqui vai a versão mais dura.
O BofA lembrou que o Japão paga até 50% a mais pela carne importada, fato, do que o preço médio de US$ 4,50 o kg que o Brasil vende, fato. Essa é a média da cotação atendida pela China e que seria seguida pelo Vietnã.
No mercado nipônico, aquele prêmio, porém, é para a carne americana e australiana (45% do atendimento), concentradores dos US$ 4 bilhões que o mercado atacadista do país gastou em importações em 2024.
Mercados exportadores mais maduros e fiéis do Japão, prontamente aceitos pelas autoridades sanitárias, e donos de plantéis de angus (na maioria) e alguma coisa de hereford, raças europeias consideradas mais nobres em marmoreio (há controvérsias) e de paladar mais aceito nas mesas dos “izakayas” e dos lares do que o desconhecido zebu brasileiro.
Em tempo: o otimista BofA assume que o preço médio da carne brasileira chegando hoje ao temido Japão sairia acima de US$ 7/kg mantido aquele plus, para satisfazer os 6,9/kg per capita ano do consumo.
Aí, sim, talvez pudesse equilibrar alguma limada nas vendas brasileiras aos EUA, já que as importações dos bovinos do Brasil em 2024 foram de 280 mil toneladas, o segundo maior destino depois dos onipresentes chineses.