MP aprovada, em dia de ata

O governo vive cada dia com sua agonia. Em uma votação tumultuada na Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto conseguiu ontem à noite uma vitória apertada e importante. O texto principal da Medida Provisória (MP) 665, que restringe o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, foi aprovado com 252 votos a favor, 227 contra e uma abstenção.

A medida, que faz parte do ajuste fiscal da equipe econômica, foi aprovada com ampla adesão da bancada petista, após o PMDB ter ameaçado retirar o apoio à proposta. A maioria dos peemedebistas também se posicionou a favor da MP. Ainda assim, a sessão foi marcada por vários momentos de tensão, com chuva de notas falsas de dólares e panelaços, além de ataques pessoais entre deputados.

A votação vai continuar hoje, quando destaques ao texto ainda terão de ser apreciados. Somente depois disso, o Senado ira apreciar a MP e tem até o dia 1º de junho para votá-la - prazo em que a medida perde a validade. Ainda hoje, no Câmara, acontece uma nova audiência pública da CPI da Petrobras, com a presença de executivos de outras empresas investigadas por esquemas de irregularidade com a estatal petrolífera.

Já no Planalto, a presidente Dilma Rousseff recebe representantes das Nações Unidas no Brasil (9h30) e o presidente mundial da Telefónica, César Alierta (11h), além dos ministros da Educação, Renato Janine Ribeiro (16h), e das Cidades, Gilberto Kassab (17h). Por sua vez, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, participa de seminário sobre política fiscal, a partir das 9 horas e, no início da tarde, às 13h30, fará parte de um talk show sobre o mesmo assunto.

Portanto, as atenções dos investidores nesta quinta-feira tendem a ficar divididas entre as notícias vindas de Brasília e a agenda de indicadores domésticos que traz, entre outras coisas, a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento será lido com lupa, em busca de pistas sobre os próximos passos do Comitê, que deixou em aberto os rumos da taxa básica de juros, depois de ter elevado a Selic para 13,25% em abril.

A ata será publicada às 8h30. Antes, às 8 horas, sai o IGP-DI de abril, que deve desacelerar para 0,90% (na mediana), por causa dos preços agrícolas, depois de subir 1,21% em março. No mesmo horário, sai o indicador antecedente de emprego no mês passado e, às 9 horas, é a vez da PNAD contínua do IBGE em março. A Anfavea também divulga os números sobre o setor automobilístico no mês passado no fim da manhã.

É válido lembrar que a depender do conteúdo da ata do Copom hoje, ajustes nas apostas sobre o atual ciclo de aperto monetário podem ter efeito sobre a cotação do dólar, que ontem fechou em queda pelo segundo dia consecutivo, em linha com a perda de tração da moeda norte-americana no exterior. Já a Bovespa realizou lucros, após atingir a máxima do ano durante a sessão, aos 58.574 pontos, com os investidores estrangeiros atuando fortemente na ponta vendedora.

Yellen x rali. A puxada recente das bolsas de valores foi tema do encontro, ontem, entre a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. O alerta da comandante do Banco Central dos Estados Unidos, quanto a possíveis armadilhas aos investidores por causa dos valores “bastante elevado” das ações, penalizou não só a performance de Wall Street, ontem, mas também foi ecoado nos negócios na Ásia hoje.

A Bolsa de Xangai caiu pelo terceiro dia consecutivo, em -2,8%, estendendo para 8,2% as perdas acumuladas apenas neste início de maio e no pior desempenho para o período de três dias desde junho de 2013. As ações de indústrias e empresas ligadas à infraestrutura lideraram as perdas, com o movimento sendo potencializado pela perspectiva de redução nas margens de negociação.

Além disso, o Morgan Stanley rebaixou a recomendação para as bolsas chinesas pela primeira vez em mais de sete anos. O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, caiu 1,3%. Ainda na região Ásia-Pacífico, a Bolsa de Tóquio recuou 1,23%, enquanto na Austrália, a Bolsa de Sydney perdeu 0,6%, abalada ainda pela queda no número de pessoas empregadas no país em abril.

Aliás, nesta véspera de divulgação do relatório oficial do mercado de trabalho norte-americano, o chamado payroll, os mercados financeiros redobram a cautela. Isto porque, o dado pode encorajar (ou não) o Federal Reserve a adiar a primeira alta dos juros nos EUA desde 2006 para além do próximo encontro, em junho.

Depois do susto com o salto do déficit comercial norte-americano, na terça-feira, ontem foi a vez da pesquisa ADP decepcionar, mostrando uma criação de postos de trabalho no setor privado dos EUA abaixo de 200 mil vagas pelo segundo mês consecutivo, aumentando o temor de que a geração de emprego no país está desacelerando.

Na agenda norte-americana do dia, às 9h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e, às 16 horas, é a vez do crédito ao consumidor norte-americano em março. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas nesta manhã.

Grécia e Reino Unido. As principais bolsas europeias também recuavam, mais cedo, ao redor de 1%, acompanhando o sinal negativo vindo da Ásia e dos EUA, mas também pressionadas pela agitação no mercado de bônus europeus. O juro do bund alemão de 10 anos estava acima de 0,799% nesta manhã, depois de ter caído perto de zero na esteira dos estímulos lançados pelo Banco Central Europeu (BCE).

Na agenda econômica na Europa, as encomendas à indústria da Alemanha cresceram menos que o esperado em março, em 0,9% ante fevereiro, de uma projeção de +1,1%. Da mesma forma, a produção industrial na França caiu mais que o previsto, em -0,3% no mesmo período, ante expectativa de -0,2%.

Mas as atenções na Europa estão voltadas para a votação no Reino Unido. O índice Stoxx Europe 600 cedia cerca de 1,5%, na terceira queda consecutiva, ao passo que a Bolsa de Londres perdia já quase 2%, em meio às eleições gerais mais acirradas no país desde a Segunda Guerra Mundial.

A primeira indicação de um resultado do pleito será conhecido apenas à noite, no horário local, mas tudo indica que será necessário formar um governo de coalizão, já que nem o Partido Conservador, de David Cameron, nem o Trabalhista, do oponente Ed Miliband, conseguirá assentos suficientes no Parlamento para governar sozinho. Por enquanto, a libra esterlina está de lado ante o dólar, mas cai ante o euro, ao passo que a moeda única europeia também avança ante a moeda dos EUA. Entre as commodities, o petróleo cai, mas o WTI segue acima da faixa de US$ 60 por barril.

Novamente na contramão, a Bolsa de Atenas subia ao redor de 2%. O próximo encontro da zona do euro para discutir a questão da Grécia está marcada para o dia 11 e o governo grego ainda precisa mostrar progressos para alcançar um acordo com os credores internacionais ou arriscar regras mais apertadas de liquidez para os bancos do país.

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