Cresce lista de preocupação
O aumento da tensão no Oriente Médio, em meio a um conflito geopolítico envolvendo Estados Unidos e Rússia, por causa da Síria, soma-se a um cenário político conturbado na Casa Branca e ao cronograma do Federal Reserve, que já considera um aperto monetário mais rápido. À esse cenário externo, tem-se uma crise de confiança no Brasil, diante da descrença na classe política e na Suprema Corte do Judiciário.
Diante dessa lista crescente de focos de tensão, os investidores voltam à defensiva, à espera de um ataque dos EUA ao regime de Assad, que pode provocar uma reação de Moscou. As principais bolsas europeias se arrastam nesta manhã, após uma sessão de perdas no outro lado do mundo, onde as bolsas caíram desde Tóquio até a Austrália. Ao mesmo tempo, os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam ganhos nesta manhã.
Nos demais mercados, o dólar ganha terreno do iene, mas o euro mostra-se estável, antes dos números sobre o desempenho da indústria na região da moeda única, logo cedo. Entre as moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities, a lira turca avança. Já o petróleo oscila em baixa, após atingir o maior nível em cerca de três anos, na faixa de US$ 67 o barril, ao passo que o ouro recua.
Aqui, os ativos não sairão ilesos. O mercado doméstico encontrou ontem alguma âncora, aportando-se em declarações de integrantes da equipe econômica para retirar boa parte dos prêmios embutidos no dólar, que fechou abaixo de R$ 3,40 após encerrar acima desse nível por duas vezes seguidas, e também na curva implícita de juros futuros, que se satisfez com a indicação do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de que o corte na taxa básica (Selic) em maio será o último do atual ciclo.
Mas isso não significa que os negócios locais abandonaram a cautela com a situação política e eleitoral no país. Ao contrário, ao que tudo indica, o Brasil entrou em um limbo e seguirá em suspenso, até que haja maior clareza sobre quem assumirá o comando do país a partir de 2019. A torcida dos investidores é por um candidato com viés reformista, que ainda não aparece na preferência do eleitorado seis meses antes das eleições.
Com isso, o dólar deve se sustentar ligeiramente abaixo de R$ 3,40 e a Bovespa tende a flutuar em torno dos 80 mil pontos, ao passo que os juros de prazos mais longos podem manter uma escadinha. Nada dramático. Mas, o comportamento está sujeito a solavancos, com os ativos locais oscilando ao sabor de pesquisas de intenção de votos e do debate judicial em torno da prisão do ex-presidente Lula.
Agora que o petista está preso, a dúvida é saber qual será o próximo passo e o caminho a ser tomado, seja da defesa, que ainda tenta libertá-lo, seja do Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda pode retomar o debate sobre a prisão após condenação em segunda instância. A falta de clareza sobre se (ou quando) Lula será solto mantém elevado o quadro de incertezas, em meio à falta de definição sobre o tema e ao receio de o líder popular atuar como cabo eleitoral. Em meio a tudo isso, não se pode esquecer o cenário externo.
Na agenda econômica do dia, o destaque fica com o desempenho do comércio brasileiro em fevereiro (9h). Apesar da pausa nos dias de folia do carnaval, a expectativa é de crescimento das vendas no varejo pelo segundo mês seguido, em +0,5%, sendo que o avanço na comparação anual deve cravar o décimo primeiro mês de resultado positivo consecutivo, em +3,3%.
Trata-se do único indicador previsto para hoje. Entre os eventos de relevo, o presidente Michel Temer promove a primeira reunião ministerial (10h), após o troca-troca no governo por causa das eleições, de modo a mostrar que seu mandato prossegue até o fim deste ano. Mas a sensação já é de que a classe política, tanto no Executivo quanto no Legislativo, entrou em um modo de sobrevivência e está mais preocupada em manter o foro privilegiado.
No exterior, o calendário traz a ata da reunião de março do Banco Central Europeu (BCE), quando a autoridade monetária retirou a intenção de ampliar os estímulos adotados na região da moeda única, dando a entender que o programa de recompra mensais de bônus termina em setembro. Já nos EUA, saem os pedidos semanais de seguro-desemprego e os índices de preços de importação e de exportação em março, ambos às 9h30.