Semana começa em ritmo lento
A última semana completa de julho começa ainda em um ritmo lento, com os eventos econômicos que devem agitar os mercados financeiros programados apenas para os próximos dias e o recesso parlamentar mantendo certa calmaria no cenário político em Brasília. Ainda assim, as articulações nos bastidores seguem intensas, em meio à campanha do presidente Michel Temer para derrubar a denúncia por corrupção passiva na Câmara.
Após o anúncio de aumento de impostos sobre os combustíveis, Temer receia ampliar o desgaste junto à população e passou o fim de semana em São Paulo para discutir outras soluções para o rombo nas contas públicas. Além do advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, o presidente recebeu no domingo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o economista Delfim Netto e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Mas os mercados domésticos já absorveram a crise política, com os ativos brasileiros voltando a ser negociados em níveis anteriores à delação da JBS, e também ficaram ilesos ao aumento de imposto sobre os combustíveis, diante da percepção de que a inflação baixa será capaz de conter um eventual choque de preços. O que importa ao investidor é a força política do governo para avançar com as reformas e cumprir o ajuste fiscal.
Portanto, dos males o menor. A expectativa é de que com a alta na receita gerada pelo aumento do imposto, o governo poderá atingir a meta fiscal deste ano, de déficit primário de R$ 139 bilhões. Contudo, novas elevações da carga tributária podem estar no radar do governo nos próximos meses e medidas como o IOF, a Cide ou até contingenciamento maiores podem ser anunciados.
De qualquer forma, o mercado entende que o controle das contas públicas é essencial para colocar a economia brasileira na rota de crescimento mais sustentável e o sinal emitido pelo governo, de maior austeridade, traz conforto aos investidores. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também deu um voto de confiança e elevou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano, de 0,2% para 0,3%.
Porém, o Fundo estima que a recuperação econômica será mais lenta e, por isso, reduziu a expectativa de expansão do PIB em 2018, de 1,7% para 1,3%. De acordo com o FMI, a melhora da atividade prevista para 2017 está relacionada ao forte resultado do PIB nos três primeiros meses deste ano, mas a fraca demanda doméstica e as incertezas políticas vão se refletir em um ritmo mais moderado de crescimento no próximo ano.
Na agenda econômica, o calendário da semana traz como destaque as decisões sobre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) e o Federal Reserve (Fed) reúnem-se e não devem trazer surpresas. Por aqui, espera-se uma continuidade no ritmo de cortes da Selic, em um ponto percentual (pp), enquanto lá fora, a previsão é de manutenção do custo do empréstimo em 1,25%.
Desse modo, a novidade deve ficar por conta do comunicado que acompanhará os respectivos anúncios. No caso do Fed, os investidores esperam encontrar pistas sobre o momento em que deve começar a redução do balanço patrimonial, enquanto o Copom deve condicionar novas quedas nos juros às expectativas de inflação, à evolução da atividade e a outros fatores de risco.
A Super Quarta-feira promete ser o auge da agenda econômica desta semana. Antes, serão conhecidos dados de atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos EUA em julho, hoje, além de números sobre o mercado imobiliário norte-americano, amanhã. Por enquanto, as principais bolsas europeias e os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho.
Depois, na sexta-feira, merecem atenção a confiança do consumidor na região da moeda única e a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e de alguns países europeus no trimestre passado. Internamente, no mesmo dia, saem o resultado de julho do IGP-M e os números do desemprego no país até junho. Nesta segunda-feira, tem as tradicionais publicações do dia: pesquisa Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h).
A safra de balanços também ganha força, no Brasil e no exterior. Mas o destaque do dia é a reunião do cartel de países produtores de petróleo (Opep) na Rússia. À espera desse evento, o barril do petróleo é negociado em queda, abaixo de US$ 46, uma vez que a Nigéria e a Líbia não devem reduzir os níveis de produção da commodity. O dólar, por sua vez, segue enfraquecido, após tocar o menor nível desde maio de 2016 em relação aos rivais.