Em ritmo de férias
O início da semana deixou claro que faltam indicadores e notícias para embalar os mercados domésticos, que já sofrem com um volume baixo. A pausa no cenário político por duas semanas, com o início do recesso parlamentar, deixa os negócios locais com pouca movimentação, à espera de fatos novos que possam surgir até o início de agosto. Com Brasília esvaziada nos próximos dias, a cautela se deve a delações que podem vir à tona.
Ao mesmo tempo, a expectativa pela prévia de julho da inflação oficial (IPCA-15), na quinta-feira, e pela decisão de juros (Selic), na semana que vem, reduzem o ímpeto da sessão local, antes que os investidores possam discutir mais sobre a economia brasileira. Até lá, os ativos brasileiros devem andar de lado – ou sob a influência do cenário externo.
Mas o noticiário internacional está igualmente fraco, em meio às férias de verão (no Hemisfério Norte), que também se reflete na sessão local. O destaque da semana é o tema “Feito na América”, que dá destaque às empresas e produtos fabricados nos Estados Unidos, visando, entre outras coisas, desviar o foco da relação entre o governo Trump e a Rússia.
A aprovação do presidente norte-americano, Donald Trump, é a pior dos últimos 70 anos nos EUA, abaixo de 40%, e ele tenta melhorar a avaliação da administração federal junto a população, às vésperas de manifestações marcadas a favor do impeachment dele, no sábado. Ou seja, emoções mais fortes no exterior (e nos negócios) dependerão de Trump.
Os sinais de que a proposta atual de reforma do sistema de saúde não irá avançar lança uma nuvem sobre a agenda mais ampla de revitalização econômica de Trump, em meio à falta de apoio dos republicanos. Como resultado, o dólar é negociado no menor valor em 10 meses em relação a uma cesta de moedas, ao passo que os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho.
As principais bolsas europeias também recuam, penalizadas pela valorização do euro e da libra. As moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities, como os dólares australiano e neozelandês, também ganham terreno. Entre as matérias-primas, o minério de ferro registrou o maior nível desde maio na bolsa chinesa de Dalian, diante da forte demandas das siderúrgicas, ao mesmo tempo em que o petróleo recua.
Na agenda econômica do dia, o calendário doméstico está esvaziado. No exterior, logo cedo, sai o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e na zona do euro em julho, enquanto nos EUA serão conhecidos os preços de importação em junho (9h30); o índice de confiança das construtoras neste mês (11h) e o fluxo de capital estrangeiro em maio (17h).
Por enquanto, o ambiente externo joga a favor, com os sinais de que o Federal Reserve não deve ter pressa em subir a taxa de juros norte-americana. Essa sinalização ajudou a afastar os mercados domésticos do auge do estresse após a delação da JBS e sustenta a Bolsa acima dos 65 mil pontos, o dólar abaixo de R$ 3,20 e a renda fixa cobrando ousadia no corte dos juros básicos.
A aprovação da reforma trabalhista, na semana passada, somada à deflação em curso e à atividade fraca, renovou o ânimo dos investidores, que passaram a enxergar espaço para manutenção no ritmo de queda da taxa Selic - ou até uma aceleração no passo. O sentimento de que o presidente Michel Temer pode ficar no cargo até 2018 combinado com a sensação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estará na disputa eleitoral também ajuda.
Em entrevista ontem na TV, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, reafirmou lealdade a Temer e se colocou como opção à Presidência da República "em duas ou três eleições", mas descartou uma reforma política antes de 2018. Ele disse ainda que será o "árbitro do jogo" na votação da denúncia contra o presidente, marcada para o início de agosto.
Aliás, o presidente Temer gravou ontem um vídeo, publicado nas redes sociais, no qual ignorou a denúncia contra ele e celebrou a aprovação da reforma trabalhista. "Nem os mais otimistas acreditavam" na aprovação da medida nem que o governo pudesse "recuperar o tempo perdido" de forma tão rápida, disse. Para ele, pessoas que hoje vivem na informalidade conseguirão trabalhar de carteira assinada.
Mas o noticiário político está mais frio, alinhado às temperaturas que congelam o país neste inverno.