Mercado de olho em assuntos domésticos
- Olívia Bulla
- 4 de out. de 2016
- 3 min de leitura

As expectativas em relação à situação fiscal do Brasil dominam as atenções dos mercados domésticos, após os resultados das eleições municipais agradarem. Os investidores entendem que, com a derrota esmagadora do PT e a ascensão do PSDB, a mensagem deixada nas urnas é forte: as reformas econômicas do governo Temer têm sinal verde para passar pelo país. Resta apenas colocar a pauta em votação entre os parlamentares.
E hoje deve ser dado o primeiro passo nessa direção. A expectativa é de que seja lido na comissão especial da Câmara, às 14h, o relatório da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos por até 20 anos. Na previsão mais otimista, o texto deve ser votado até depois de amanhã, seguindo, então, para o primeiro turno da votação em plenário já na semana que vem, antes do feriado.
Ainda na Câmara, deve ser votado hoje o projeto que altera as regras do pré-sal, acabando com a exclusividade da Petrobras em explorar a camada. Na outra Casa, no Senado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos, a partir das 10h.
Diante da expectativa de andamento do ajuste fiscal no Congresso, o comandante da autoridade monetária pode acumular evidências de que a taxa básica de juros (Selic) largará na frente e cairá já neste mês. À espera da inflação oficial no país (IPCA) em setembro, na sexta-feira, para corroborar as apostas em relação ao tamanho do corte da Selic em outubro, a agenda econômica desta terça-feira está mais fraca.
O destaque fica apenas com os números da produção industrial brasileira em agosto. O setor deve ter interrompido cinco meses consecutivos de alta e recuado 3% em relação a julho, praticamente anulando todo crescimento de 3,7% acumulado entre março e julho de 2016. Já na comparação anual, a indústria deve registrar o trigésimo resultado negativo seguido, com queda de 4,8%.
Boa parte da explicação da piora está na indústria automotiva, que teve péssimo desempenho no período. Os números oficiais serão conhecidos às 9h. Também merece atenção a divulgação da pesquisa CNI-Ibope com a avaliação do governo Temer, às 10h. O levantamento foi realizado entre os dias 20 e 25 de setembro com pouco mais de 2 mil pessoas em cerca de cem municípios.
No exterior, o calendário nos Estados Unidos está esvaziado hoje, enquanto na zona do euro saem os preços no atacado (PPI) em agosto. Destaque ainda para os discursos dos presidentes das distritais do Federal Reserve em Richmond, Jeffrey Lacker, pela manhã, e de Chicago, Charles Evans, à noite. Ambos não são membros votantes neste ano.
Mas é a fala da presidente da distrital de Cleveland, Loretta Mester, que agitam os mercados internacionais nesta manhã. Em entrevista à TV, ela afirmou que a economia norte-americana está madura o suficiente para suportar um aumento da taxa de juros nos EUA e repetiu a avaliação de que o encontro de novembro do Fed segue "vivo" e "atraente" para uma decisão de política monetária, apesar da proximidade das eleições presidenciais.
As declarações de Loretta, que votou a favor de uma alta nos juros dos EUA já em setembro, fortalecem o dólar. A moeda norte-americana ganha terreno ante o iene pelo sexto dia seguido e alcança o maior nível frente a libra esterlina em três décadas, em meio às preocupações com o Brexit. O euro cai.
O movimento também enfraquece as commodities e as moedas correlacionadas, sendo que o petróleo lidera as perdas, após registrar o maior nível em três meses. Por sua vez, o dólar australiano é destaque de queda, após o banco central local (RBA) manter a taxa de juros no mínimo recorde de 1,5%, dentro do esperado.
Nas bolsas, o sinal positivo prevaleceu na Ásia e se espalha também pela Europa, diante da diminuição do temor em relação ao Deutsche Bank. Destaque para o índice londrino FTSE 100, que é negociado acima da marca de 7 mil pontos pela primeira vez em 16 meses.
Em Nova York, os índices futuros estão em alta, com os investidores à espera de pistas sobre a trajetória do custo do empréstimo nos EUA até o fim deste ano. A possibilidade de um aperto monetário em dezembro permanece em 61%, 10 pontos porcentuais acima do observado uma semana antes.