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BoJ dá as cartas e mercado aguarda Fed


A decisão do Banco Central do Japão (BoJ) de mudar o foco da política monetária e passar a mirar a curva de juros anima os mercados financeiros nesta manhã, diante dos sinais de que novos estímulos podem estar a caminho. Apesar de não tomar novas medidas para impulsionar a economia japonesa, não estão descartados novos afrouxamentos, o que renova o apetite por ativos de risco e desloca as atenções para o Federal Reserve.

As bolsas da Ásia e da Europa têm ganhos acelerados, com destaque para as ações dos bancos, após a decisão do BoJ mostrar preocupação com a situação das instituições financeiras, por causa da taxa nominal já negativa no país, o que compromete o rendimento com operações de crédito. Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão em alta, no aguardo, agora, dos eventos envolvendo o Fed.

Entre os ativos japoneses, Tóquio subiu quase 2%, o iene perde terreno para o dólar, enquanto o rendimento do bônus de 10 anos (JGB) caiu abaixo de zero pela primeira vez desde março, após o BoJ ajustar sua política monetária e deixar aberta a possibilidade de tomar novas ações no último trimestre deste ano. Ainda entre as moedas, o dólar testa forças ante os rivais, mas as divisas emergentes avançam, com as apostas de que o fluxo de recursos para os países em desenvolvimento deve se manter.

O destaque fica com o rand sul-africano, que sobe pelo sexto dia seguido, à espera da decisão de política monetária do BC local. Os bancos centrais da Nova Zelândia, Indonésia e da Noruega também reúnem-se hoje, ao passo que o novo presidente do BC da Austrália (RBA), Philip Lowe, discursa. Nas commodities, o petróleo tenta reaver a marca de US$ 45 por barril, em meio ao otimismo de que o excesso de oferta será contornado.

Os investidores estavam divididos quanto à possibilidade de estímulos adicionais no Japão, mas a falta de ação, por ora, do outro lado do mundo não afetou o otimismo. Ao contrário, ao criar uma meta próxima de zero para a taxa de juros japonesa de 10 anos, o BoJ manteve a ousadia na condução da política monetária, uma vez que a terceira maior economia do mundo ainda emite sinais de que precisa de apoio para retomar o crescimento e gerar inflação.

Agora, a expectativa se volta para os eventos desta quarta-feira que envolvem o Fed, a partir das 15h. Os investidores esperam manutenção da taxa entre 0,25% e 0,50%, mas um tom cautelosamente duro (“hawkish”) no discurso, indicando a chance de aperto no juro norte-americano até dezembro, em uma direção contrária à manutenção de estímulos por parte de outros grandes bancos centrais.

Os sinais do Fed podem vir no placar da decisão, com mais membros votando por uma alta de 0,25 ponto percentual do juro neste mês, e também no texto do comunicado que acompanhará o anúncio, bem como na atualização das estimativas para as principais variáveis econômicas dos Estados Unidos. Mas as atenções estão mesmo voltadas à entrevista coletiva que a presidente do Fed, Janet Yellen, concede às 15h30.

É na fala de Yellen que os investidores podem inferir o ritmo da normalização monetária, mais espaçada e gradual, e captar eventuais indícios de que tal processo estaria caminhando, em verdade, para um ciclo de aperto dos juros, com doses mais firmes e constantes. Ainda na agenda econômica norte-americana, às 12h30, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA.

Internamente, a agenda econômica traz apenas os números semanais do fluxo cambial (12h30). Esse calendário mais fraco em termos de indicadores desloca as atenções para os eventos do dia, uma vez que o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, seguem com compromissos em Nova York.

A equipe do governo Temer vem montando uma força-tarefa e entoando em coro um discurso uníssono de que o Brasil precisa promover um ajuste fiscal e aprovar reformas estruturais, como a da Previdência, inicialmente – e, depois, a trabalhista. Só assim será possível tirar as contas públicas do vermelho, potencializando a confiança de empresários e consumidores e contornando a trajetória dos juros, da inflação e do desemprego e da renda.

A expectativa é de que a proposta (PEC) que fixa um teto para os gastos por até 20 anos seja aprovada ainda em 2016. O projeto deve passar na Câmara no início de novembro, logo após o segundo turno das eleições municipais, sendo então encaminhado ao Senado, que terá pouco mais de um mês para concluir os dois turnos da votação. Já a aprovação do aumento da idade mínima para a aposentadoria (das mulheres) deve ficar para 2017.

No discurso (e no papel), o plano traçado é encantador. Mas, na prática, é que são elas.

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