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O que Temer e o que não temer


Os mercados financeiros começam a semana olhando para o retrovisor e ainda repercutindo o que aconteceu desde a última sexta-feira. Enquanto os investidores no exterior mostram-se dispostos em retomar posições nos ativos de risco, após os dados sobre o emprego nos Estados Unidos esfriar as apostas de um aumento no juro norte-americano neste mês; no Brasil, os protestos de domingo contra o presidente Michel Temer e por "diretas já" lembram que a crise ainda não acabou.

Ao final da semana passada, os mercados domésticos vinham apostando que o cenário pós-impeachment de Dilma Rousseff seria um mar de tranquilidade, com o novo governo conseguindo vender a imagem do país aos olhos dos estrangeiros e colocando em prática as medidas necessárias - e impopulares - para retomar o crescimento. Essas especulações levaram o real brasileiro a registrar a primeira semana de alta desde o início de agosto, ao passo que a Bovespa subiu ao maior nível em dois anos, antes do período eleitoral de 2014.

Mas, as 40 pessoas que se somaram a um número 2.500 vezes maior nas ruas da Av. Paulista, ontem, deixaram a sensação de que a tentativa de Temer em convencer os investidores de que tudo está bem no Brasil está longe de ser verdade. A capital paulista reuniu ontem o maior ato na primeira grande manifestação após o impeachment de Dilma ser consumado, tendo a companhia de outras capitais, como Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba.

Essa agitação social não contou com a divulgação da grande impressa nem com a postura pacífica da Polícia Militar e, ainda assim, uma nova manifestação foi marcada para a próxima quinta-feira (dia 8). Diante disso, os investidores tendem a adotar uma postura defensiva nos negócios, no aguardo de um cenário mais claro para tentar valorizar ainda mais os ativos domésticos.

Este movimento pode ir na contramão do observado no exterior, onde as bolsas e moedas de países emergentes ganham terreno, após o relatório sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll) reduzir para 32% a chance de aperto monetário no país em setembro e para menos de 60% a possibilidade de essa alta acontecer em dezembro. Ainda assim, o feriado pelo Dia do Trabalho (Labor Day) nos EUA, que marca o fim das férias de verão por lá e mantém Wall Street fechada hoje, reduz a liquidez dos negócios pelo mundo.

Não apenas os dados sobre o trabalho em si frustraram as expectativas, com seis milhões de pessoas empregadas em horário parcial, como também os salários cresceram abaixo do previsto. Isso mostra que o grande problema da economia dos EUA continua sendo a falta de uma reação inflacionária compatível com um cenário de aperto monetário, realçando a dificuldade em unir a aceleração do crescimento, gerando lucratividade das empresas e recomposição de preços.

A agenda econômica norte-americana desta semana traz poucos ingredientes que podem alterar essas apostas, com destaque apenas para o Livro Bege, na quarta-feira. Amanhã, sai o índice ISM do setor de serviços; na quinta-feira, é a vez do crédito ao consumidor e, na sexta-feira, dos estoques no atacado.

Mas o destaque do calendário no exterior é a decisão do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira. A expectativa por uma nova rodada de estímulos monetários na região da moeda única pode deixar ainda mais evidente a divergência entre as políticas de juros praticadas nos EUA e na zona do euro, sendo a primeira mais dura (“hawkish”) e a segunda mais frouxa (“dovish”).

Antes do anúncio do BCE, dados de atividade na Europa calibram as apostas por ações sem precedentes a serem lançadas pelo presidente da autoridade monetária, Mario Draghi neste mês. Hoje cedo, saem o índice PMI dos setores indústria e de serviços, além das vendas no varejo e, amanhã é a vez do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano.

O Japão também informa os números do PIB no período e a China anuncia os dados da balança comercial em agosto, ambos na noite de quarta-feira. Fora do eixo EUA-Europa-Ásia, chama a atenção as decisões dos bancos centrais da Austrália (RBA) e do Canadá (BoC), amanhã e quarta.

No Brasil, o resultado da inflação ao consumidor (IPCA), na sexta-feira, calibra as apostas em relação à reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom). O mercado já vê mais de 70% de chance de início do ciclo de cortes da taxa Selic, em 0,25 ponto percentual, no mês que vem. A ata da encontro de agosto do Copom, amanhã, pode reforçar essa possibilidade, após a mudança no teor do comunicado que acompanhou a decisão do mês passado de manter o juro básico em 14,25%.


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