Otimismo com EUA ofusca dados ruins da China
As duas maiores economias do mundo emitiram sinais destoantes desde a última sexta-feira, mas os mercados financeiros iniciaram a semana apoiando-se mais nos dados de emprego nos Estados Unidos do que nos números fracos da balança comercial chinesa. Os investidores seguem comprando ações e commodities hoje, com os recentes indicadores econômicos norte-americanos elevando a confiança de que os EUA podem suportar o crescimento vacilante no restante do mundo. No Brasil, novas delações agitam os negócios.
O sinal positivo prevalece entre os ativos de risco no exterior, a despeito do aumento das apostas por um aumento na taxa de juros nos EUA até o fim do ano. A possibilidade de aperto promovido pelo Federal Reserve em dezembro subiu para 47% após o relatório do mercado de trabalho (payroll) no país, de 37% um dia antes da divulgação. O rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) cai, antes de um leilão do Tesouro.
Os índices futuros das bolsas de Nova York estão no azul, assim como as principais bolsas europeias, que recebem suporte também do crescimento de 0,8% da produção industrial alemã em junho ante maio. A previsão era de alta de 0,7%. Na China, porém, as exportações caíram 4,4% em julho, em termos dolarizados e na comparação anual, ao passo que as importações recuaram 12,5%, gerando um superávit comercial de US$ 52,3 bilhões.
Em yuans, houve um aumento de 2,9% nas exportações no mês passado e queda de 5,7% nas importações. Os números mostram que, um ano após promover a maxidesvalorização na moeda local, o yuan mais fraco tem sido capaz de atenuar os efeitos da baixa demanda mundial, impulsionando a receita. Sem a contribuição do setor externo, Pequim tem agido para estimular o investimento e o consumo doméstico.
A Bolsa de Xangai fechou em alta de 0,9% e Hong Kong subiu 1,6%, enquanto Tóquio saltou 2,5%. Entre as moedas, destaque para o baht tailandês, após a mobilização por uma nova constituição no país, e também para o won sul-coreano, na esteira da melhora na avaliação da nota de risco de crédito (rating) da Coreia do Sul pela Standard & Poor's (S&P).
A fragilidade do dólar abre espaço para o petróleo ser negociado acima de US$ 42 pela primeira vez neste mês, ao passo que o cobre se recupera, depois de ter caído ao nível mais baixo em um mês.
Por aqui, a delação premiada de Marcelo Odebrecht coloca o presidente interino Michel Temer novamente envolvido em esquema de propina, desta vez, de R$ 10 milhões, que teriam sido destinados ao ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf. O empresário também citou o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que recebeu R$ 23 milhões via caixa dois, durante a campanha presidencial de 2010.
Mas os investidores devem se amparar apenas no esquema de desvio delatado por João Santana durante a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Segundo o marqueteiro, ela ordenou que as operações de caixa 2 fossem executadas.
Nesta segunda semana de volta aos trabalhos no Congresso, o foco dos negócios locais está nos próximos passos para a cassação do mandato da presidente afastada. Amanhã, o plenário do Senado deve deliberar o relatório aprovado pela comissão especial, a favor do impeachment de Dilma. Uma maioria simples, de 41 senadores, garante o julgamento final do processo, que deve acontecer no fim deste mês.
Antes da sessão definitiva, que precisa de 54 votos para cassar a presidente, serão ouvidas até seis testemunhas de defesa e de acusação. em plenário do relatório contra o mandato do ex-comandante da Casa, o deputado Eduardo Cunha, iniciando a contagem para a votação.
As atenções também continuam voltadas na negociação em torno do ajuste fiscal, após algumas concessões feitas pelo governo Temer aumentarem a incerteza sobre o esforço em arrumar as contas públicas. A proposta (PEC) sobre o teto dos gastos é a principal pauta, mas a renegociação da dívida dos Estados também está no radar.
A agenda econômica também está cheia nesta semana, no Brasil e no exterior, com destaque para o. Por aqui, a segunda-feira começa com o IGP-DI de julho (8h), além das tradicionais divulgações do dia, a saber, a Pesquisa Focus do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h).
Amanhã, é a vez das vendas no varejo em junho e, no dia seguinte, sai a inflação oficial ao consumidor no Brasil em julho, medida pelo IPCA. Na sexta-feira, é esperado o índice de atividade econômica do BC, o IBC-Br. Na safra de balanços, o calendário também está recheado, com destaque para os resultados trimestrais das estatais Banco do Brasil e Petrobras, ambos na quinta-feira.
No exterior, a divulgação de indicadores econômicos está igualmente carregada. Na China, além da balança comercial, devem ser conhecidos os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) em julho, na virada de hoje para amanhã.
Na madrugada de quinta-feira, saem a produção industrial e as vendas no varejo chinês no mês passado. Indicadores de inflação no atacado e de atividade do comércio em julho nos Estados Unidos saem na sexta-feira, juntamente com o sentimento do consumidor norte-americano em agosto. No mesmo dia, na zona do euro, sai a leitura revisada do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre passado.
Fora do eixo China-EUA-Europa, também merece atenção a decisão de juros do Banco Central da Índia (RBI), amanhã. O encontro deve marcar a despedida do presidente da autoridade monetária, o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Raghuram Rajan.