Mercado volta as atenções para emprego nos EUA
O ambiente de juros próximos ou abaixo de zero nas principais economias desenvolvidas, reforçado ontem pelo Banco Central inglês (BoE), pode ganhar um ingrediente a mais nesta sexta-feira, dia de divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos (9h30). A expectativa é de que o chamado payroll reforce condições monetárias suaves (“dovish”) também por parte do Federal Reserve, adiando o aperto para 2017.
Após dois meses de resultados muito destoantes, o payroll de julho deve voltar a apresentar uma trajetória mais consistente com o que vinha sendo apurado até então. São esperadas 180 mil novas vagas nos EUA no mês passado, com a taxa de desemprego caindo de 4,9% para 4,8% e aproximando-se cada vez mais da condição de pleno emprego. Com o mercado de trabalho mais enxuto, o ganho médio por hora deve subir, provavelmente em 0,2%.
De qualquer forma, a combinação desses números ainda não deve autorizar o Fed a elevar a os juros no país mais uma vez ainda em 2016. A ausência de pressão inflacionária e os riscos à recuperação econômica norte-americana diante dos possíveis impactos negativos com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) deixam desconfortável a decisão por um novo aperto nos EUA – ou em qualquer outro lugar do mundo.
Tanto que o BoE resolveu afrouxar mais as condições monetárias ontem, pela primeira vez desde 2009, passando a mensagem aos demais BCs de que as principais economias globais não têm mostrado reação à série de incentivos dada nos últimos anos e os riscos inesperados podem provocar efeitos desconhecidos. Isso significa que a liquidez de recursos deve seguir abundante.
Nesse ambiente, cresce a possibilidade de aceleração do fluxo para países com perspectivas positivas e retornos altos, como o Brasil. Ainda mais diante do encaminhamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Apesar da situação econômica ainda frágil e da ausência de avanços concretos no ajuste fiscal, que tem decepcionado pelas contínuas cessões às demandas políticas, o apetite pelo prêmio de risco continua alto.
Ontem, a Bovespa encerrou no maior nível do ano e desde maio de 2015, ao passo que o dólar renovou a mínima de 2016, fechando abaixo de R$ 3,20. E hoje esses movimentos podem ser ampliados, a depender do que vier do payroll. À espera dos dados de emprego nos EUA, os mercados internacionais avançam, diante da crescente confiança dos investidores de que os bancos centrais irão manter a política monetária frouxa.
O dólar exibe poucas variações ante os principais rivais. O destaque entre as moedas fica com o dólar australiano, que é negociado no maior nível em três semanas, após o BC local não dar nenhuma sinalização sobre a condução da taxa de juros no seu relatório trimestral, deixas as projeções para crescimento e inflação praticamente inalteradas.
Nas bolsas, as ações de empresas de energia e de consumo lideram os ganhos na Europa e na Ásia, onde o índice MSCI da região anulou as primeiras perdas semanais em cerca de um mês. Nas praças europeias, o índice Stoxx Europa 600 caminha para o terceiro dia de alta, a despeito da inesperada queda nas encomendas à indústria alemã em junho, em -0,4% ante maio. A previsão era de alta de 0,5%. Algumas balanços também ajudam.
Em Wall Street, os índices futuros das bolsas avançam, amparados na estabilização dos preços do barril de petróleo ao redor de US$ 40 - que parece ser o fundo do poço da commodity. Nesta manhã, o WTI recua, após registrar o maior ganho nos últimos dois dias em quase um mês. Nos metais, o precioso ouro segue rumo à segunda semana de valorização.
Uma série de pesquisas de intenção de votos mostrando o candidato republicano Donald Trump bem atrás da rival democrata Hillary Clinton também traz alívio aos negócios em Nova York. Após a polêmica envolvendo os pais de um soldado norte-americano muçulmano morto, houve claramente um movimento significativo favorável a Hillary Clinton.
O destaque fica com a pesquisa na Pensilvânia, tida como crucial pelos estrategistas da campanha de Trump, que aponta ele 11 pontos atrás de Hillary, com 49% contra 38%. Além dos dados de emprego nos EUA, também são esperados os números da balança comercial norte-americana (9h30) e do crédito ao consumidor no país (16h), ambos referentes ao mês de junho.
No Brasil, o calendário econômico está esvaziado, com as atenções no país voltadas à abertura oficial dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, à noite.