Petróleo acentua queda dos mercados
Ainda que o petróleo e o dólar ensaiem uma recuperação hoje, as principais bolsas internacionais seguem em queda, acentuando o movimento negativo verificado ontem, quando os mercados financeiros encontraram na cotação do barril da commodity abaixo de US$ 40 motivos para realizar os lucros em ações e moedas, principalmente de países emergentes. As preocupações com a fraqueza da economia global e a decepção com os principais bancos centrais globais induzem o movimento, com o modo "risk-off" vindo à tona.
Os mercados também não podem desviar as atenções da recuperação dos Estados Unidos, devido ao impacto global que uma nova alta nos juros norte-americanos pode provocar nos ativos. Cientes de que os indicadores econômicos desagregados podem mostrar aquilo que os números do Produto Interno Bruto (PIB) como um todo não mostraram - mas que o Federal Reserve vê, os investidores redobram a cautela hoje, à espera de dados sobre o mercado de trabalho.
O destaque desta quarta-feira é a pesquisa ADP sobre a criação de postos de trabalho no setor privado norte-americano. O documento é tido como uma prévia do relatório oficial de emprego (payroll) no país, que sai na sexta-feira. Para o dado de hoje, espera-se a abertura de 165 mil vagas. O resultado oficial sai às 9h15.
Qualquer sinalização de um ritmo mais fraco na geração de vagas nos EUA pode levar os investidores a solidificarem as apostas em relação a um não aumento da taxa de juros neste ano. Na contramão, um mercado de trabalho mais robusto ressuscita as chances de um aperto monetário antes do fim de 2016.
Por enquanto, o Fed deixou a porta aberta, com ambas as possibilidades na mesa, mas a frustração com o resultado do PIB no segundo trimestre deste ano, deixou o mercado financeiro ressabiado. No aguardo de novas pistas, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em queda, com os investidores mais pessimistas quanto ao rali em Wall Street, após encerrar ontem no menor nível em um mês.
Esse sinal negativo contamina o desempenho das bolsas europeias, que também são penalizadas pelo recuo das bolsas asiáticas. Em Londres, o índice FTSE 100 é beneficiado pelo anúncio de recompra de ações feito pelo HSBC, no valor de US$ 2,5 bilhões. Já na Ásia, a frustração com o pacote de estímulo do Japão fez a Bolsa de Tóquio cair quase 2%, valorizando o iene. Xangai teve leve alta de 0,25%, mas Hong Kong cedeu 1,8%.
As moedas correlacionadas às commodities perdem terreno para o dólar, com destaque para o ringgit malaio e o dólar neozelandês, sob o impacto do petróleo, que afeta negativamente o apetite por ativos de maior risco. O barril do WTI ensaia alta hoje, depois de cair 5% nos últimos dois dias, mas segue cotado abaixo de US$ 40, à espera dos estoques semanais nos EUA (11h30). Nos metais, o ouro se sustenta nos maiores níveis desde o início de julho.
Novos indicadores sobre a atividade recheiam a agenda econômica desta quarta-feira. Na China, o índice dos gerentes de compras (PMI), calculado pelo Caixin, mostrou um ritmo mais fraco de expansão do setor de serviços em julho, ao cair a 51,7, de 52,7 em junho, enquanto na zona do euro o PMI composto, que agrega também a indústria, subiu a 53,2 na leitura final do mês passado, de 52,9 na prévia.
Por aqui, merece atenção os números do Banco Central sobre o fluxo cambial em julho (12h30), que podem sinalizar o apetite dos investidores estrangeiros por Brasil, diante da migração de recursos para países emergentes. Os dados também podem ser influenciados pela conta via a balança comercial.
No front político, o governo interino de Michel Temer cede, cada vez mais, às pressões e às trocas de favores em pontos importantes da reforma fiscal, o que eleva o pessimismo dos investidores quanto à capacidade da atual gestão em superar os ranços da “velha política”. Deste modo, caso os principais pontos do ajuste fiscal sejam, como outros, dilapidados no Congresso, o “namoro” do mercado local com o governo Temer pode terminar em breve.
Por ora, Brasília parece mais preocupada em acabar logo com a novela sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Sob pressão, o presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que o julgamento da presidente afastada será antecipado, não se estendendo até setembro. A votação deve começar nos dias 25 ou 26 deste mês, mas não poderá haver sessões durante o fim de semana.
A esperança dos parlamentares é de que, com o impeachment saindo de cena, possa haver quórum para aprovar a meta fiscal de 2017 e avançar com a PEC do teto dos gastos. As medidas mais impopulares também começam a entrar na pauta, após as eleições municipais.