Mercados ainda refletem BC dos EUA

Os mercados financeiros ainda ecoam a mensagem deixada pelo Federal Reserve, ontem, após manter a taxa de juros nos Estados Unidos entre 0,25% e 0,50%. O tom mais agressivo (“hawkish”) no comunicado que acompanhou a decisão mostra que há uma chance real de os juros norte-americanos voltarem a subir antes do fim deste ano – talvez já em setembro, porém de forma gradual. E essa possibilidade deprime as bolsas e o dólar.
A moeda norte-americana é negociada em baixa ante os rivais, com os investidores ainda vendo menos de 50% de probabilidade de um aperto dos juros em 2016. As commodities tiram proveito do dólar mais fraco e avançam. O níquel lidera os ganhos entre os metais básicos, ao passo que o precioso ouro sobe mais de 1%. O petróleo também avança, apesar do aumento da produção da commodity nos EUA, o que dificulta qualquer rali.
Nas bolsas, o pregão asiático encerrou em baixa - exceto Xangai (+0,08%), contaminando a sessão na Europa, que reage pela primeira vez à decisão do Fed, na tarde de ontem, e também digere os balanços trimestrais acima do esperado de BNP Paribas e Anglo American, mas abaixo do previsto da Shell. Em Nova York, os índices futuros das bolsas estão em alta, com os investidores tentando manter elevado o apetite por risco.
O Fed bem que tentou ontem realinhar as expectativas nos negócios, de liquidez monetária abundante e renovados estímulos, ao dizer que os riscos de curto prazo à economia norte-americana têm diminuído, com o mercado de trabalho se fortalecendo e a expansão econômica seguindo em ritmo moderado. Mas os investidores leram, entre as linhas do comunicado, que ainda há riscos de médio e longo prazos.
Isso implica dizer que o Fed estaria mais disposto em voltar a considerar uma subida dos juros, mas ao não especificar o momento exato em que esse aumento possa acontecer, essa possibilidade segue represada pelos mercados. Novas pistas podem ser dadas no famoso encontro na cidade de Jackson Hole (EUA), em agosto.
Ainda assim, o BC dos EUA observou que o juro no país seguirá baixo, mesmo após uma nova alta – o que indica doses homeopáticas no processo de aperto monetário. Essa sinalização do Fed mantém as apostas de que o Banco Central do Japão (BoJ) possa começar a disparar “dinheiro do helicóptero”. Ainda mais após o anúncio feito ontem pelo governo japonês, de um pacote de estímulos à economia, no valor de US$ 265 bilhões.
Esse movimento no exterior pode ser potencializado no Brasil hoje, a depender dos números fiscais a serem divulgados pelo Tesouro Nacional, às 13h30. O mercado projeta um déficit de R$ 10 bilhões nas contas do governo central em junho, mas sabe que as más notícias na área das contas públicas não param de chegar.
Antes, às 9h30, sai a arrecadação federal de impostos. Às 8h, tem o IGP-M de julho, que deve ter uma forte desaceleração ante junho, refletindo a menor pressão dos preços agrícolas no atacado. Na safra de balanços, Bradesco, Vale e Usiminas publicam seus resultados trimestrais, antes da abertura do pregão, e BRF, após o fechamento da sessão. No exterior, pela manhã, saem a confiança do consumidor na zona do euro neste mês e os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA.