Mercado mostra sua força
A resiliência dos mercados financeiros surpreende. Após os investidores exibirem uma piora do humor para os negócios ontem, o apetite pelo risco volta a ganhar força hoje. O sinal positivo prevalece entre as bolsas internacionais nesta manhã, com a temporada de balanços ditando o rumo dos negócios na Europa e em Nova York. Já o dólar é negociado no nível mais alto em sete semanas, em meio ao aumento das especulações por pelo menos um novo aperto na taxa básica de juros dos Estados Unidos neste ano.
O mercado vem recalibrando as apostas e a possibilidade de o Federal Reserve elevar os Fed Funds mais uma vez até o fim de 2016 subiu para 43%, de apenas 9% ao final do mês passado. Essa expectativa tem sustentado o dólar ante as moedas rivais, ao passo que o euro é negociado no menor valor em três semanas, diante das chances de o Banco Central Europeu (BCE) adotar sinais suaves ("dovish") em relação aos juros da região, amanhã.
Esse fortalecimento da moeda norte-americana enfraquece as divisas de países emergentes e também os preços das commodities, que são cotadas em dólar. A exceção fica com a lira turca, que segue em recuperação antes de um anúncio importante do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, a ser feito hoje, após a tentativa de golpe militar fracassada.
Entre as demais moedas, o won sul-coreano cai, mas o rand sul-africano avança. O yuan chinês também subiu, diante das especulações de que o PBoC quer impedir uma desvalorização da moeda local para além de 6,70 por dólar - nível que foi alcançado esta semana pela primeira vez desde 2010.
Os metais básicos recuam nesta manhã, assim como o ouro, que é negociado na mínima deste mês. Já o petróleo segue nos níveis mais baixos em 10 semanas, em meio à preocupação com a demanda e à espera dos estoques semanais norte-americanos da commodity (11h30).
Nas bolsas, a temporada de balanços tem surpreendido pelos resultados mais positivos do que negativos. Cerca de um décimo das 500 empresas listadas no índice S&P já publicaram seus demonstrativos contábeis referentes ao segundo trimestre e 76% do total mostrou números melhores que o esperado.
Nesta manhã, os negócios nas praças europeias são embalados pelos balanços acima das previsões da fabricante de software SAP e da montadora Volkswagen, deixando em segundo plano novos dados do Reino Unido e da Alemanha. O calendário econômico europeu ainda reserva o índice de confiança do consumidor na zona do euro (11h).
Em Wall Street, as ações da Microsoft sobem mais de 4% no pré-mercado, após o lucro e as vendas da gigante de tecnologia superarem as expectativas. Hoje, Morgan Stanley e Intel publicam seus balanços, o que tende a manter o otimismo dos investidores com a saúde das empresas dos EUA.
Aliás, os sinais de robustez da economia norte-americana combinados com a política de estímulos dos principais bancos centrais globais têm alimentado o rali dos ativos mais arriscados pelo mundo. Ontem, o índice Dow Jones encontrou forças para fechar em nova máxima histórica, pela sexta vez seguida e na oitava sessão consecutiva de alta, embalando, de quebra a Bovespa.
Hoje, a Bolsa brasileira testa o fôlego para novas altas, após encerrar a sessão de ontem com ganhos pelo décimo pregão seguido, acumulando valorização de 10% neste mês. Porém, o mercado acionário doméstico tende a encontrar uma forte barreira para reaver a marca dos 57 mil pontos, por onde passa a tendência de alta no longo prazo.
Por sua vez, o dólar interrompeu ontem, enfim, a sequência de cinco pregões consecutivos de queda e fechou acima da faixa de R$ 3,25. Além da influência externa, a correção no câmbio se dá também diante da atuação do Banco Central.
A autoridade monetária vem colocando (e vendendo) contratos de swap cambial reverso - equivalente à compra de dólares no mercado futuro - e enxugando a liquidez dos negócios. Apenas neste mês, o BC já retirou US$ 6 bilhões do mercado futuro, o que reduziu o estoque de swap tradicional ao menor nível desde outubro de 2013.
A quarta-feira ganha destaque também por ser a primeira decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a presidência de Ilan Goldfajn e a nova diretoria. Embora surpresas não possam ser descartadas, o mercado aguarda, unanimemente, pela manutenção da taxa de juros (Selic) em 14,25% ao ano.
As atenções se voltam, então, para o comunicado que acompanhará o anúncio, previsto para ser feito a partir das 18h. Os investidores acreditam que o Copom de Goldfajn manterá a parcimônia na condução da política monetária, no aguardo de sinais mais claros quanto à perda de força da inflação para, então, iniciar um ciclo de cortes nos juros básicos.
Aliás, amanhã, sai a prévia do índice oficial de preços ao consumidor no Brasil, medida pelo IPCA-15. As previsões são de ligeira aceleração no dado mensal, para a faixa de 0,50% em julho, de +0,40% em junho. No acumulado em 12 meses, porém, deve haver leve desaceleração, com a alta do indicador ainda encostada ao patamar de 9%. Mas esses assuntos ficam para amanhã.
Também pode ficar para outro dia o anúncio do governo interino de corte das despesas federais, previsto para ser feito ainda nesta semana pela equipe econômica. O núcleo político do presidente em exercício Michel Temer avalia que pode ser desnecessário um corte adicional de gastos. As apostas são de que, diante das previsões melhores para a economia doméstica, a arrecadação de impostos também pode reagir.
Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou as expectativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, pela primeira vez em quatro anos. A previsão de queda da atividade em 2016 foi reduzida para 3,3%, de -3,8% estimados anteriormente. Em 2017, pode haver um ligeiro crescimento da economia, de 0,5%, ante previsão anterior de estabilidade.