Brexit, aversão ao risco
A aversão ao risco prevalece nos mercados internacionais nesta terça-feira, com o referendo no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia (UE) alimentando a ansiedade entre os investidores, antes das decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Japão, amanhã. De um modo geral, os negócios passam por um movimento de busca por proteção em ativos seguros, com os investidores se antecipando à possível saída da ilha britânica do bloco comum europeu, e seus efeitos e incertezas no Velho Continente.
A libra esterlina cai para a faixa de US$ 1,41, junto com o petróleo, que recua para a marca de US$ 48 e afeta as moedas de países emergentes, enquanto o iene segue como porto seguro e encosta nos maiores níveis desde outubro de 20014. Os bônus soberanos também despencam, com o rendimento do título alemão de 10 anos ficando abaixo de zero pela primeira vez na história, fazendo companhia aos papéis japoneses e suíços de mesmo vencimento. Nas bolsas, o sinal negativo predomina, com as ações em queda na Ásia, na Europa e em Nova York. O índice Stoxx Europa 600 caminha para cinco dias de queda.
Novas pesquisas apontam vantagem para o chamado "Brexit", com a opção pela "saída" ganhando força e abrindo entre cinco e sete pontos em relação à "permanência". O atentando em Orlando (EUA) teria influência sobre a intenção dos britânicos, uma vez que um dos principais quesitos do referendo é o controle de fronteiras. Porém, a votação acontece apenas no dia 23, o que adentra o mercado em um período crucial de intensa volatilidade.
Por mal dos pecados, tem início hoje o primeiro grande evento reservado para esta segunda metade de junho, capaz de agitar os negócios globais. Mas não se espera nenhuma surpresa por parte do Federal Reserve, que deve manter os juros norte-americanos entre 0,25% e 0,50%, deslocando as atenções para o comunicado que acompanhará a decisão e a entrevista coletiva que a presidente do Fed, Janet Yellen, concede logo após o anúncio.
O mercado precifica chance zero de aperto na taxa dos Fed Funds, amanhã. A possibilidade de aumento no próximo mês caiu para 16%, de 53% de chance ao final de maio. A fala de Yellen pode trazer pistas sobre quando se dará o primeiro aperto monetário de 2016, após a alta promovida em dezembro passado. Para o Banco Central japonês (BoJ), os economistas estão divididos entre a adoção de novos estímulos em junho ou em julho.
Na agenda econômica de hoje, as vendas no varejo são destaque. No Brasil, o comércio varejista deve ter registrado alta de 0,5% em abril na comparação com março, no segundo mês de desempenho positivo desde o início do ano, em base mensal. Já na comparação anual, o setor deve ter recuado pelo décimo terceiro mês seguido, em -6,5%. Os números oficiais serão divulgados às 9h pelo IBGE.
Depois, às 9h30, é a vez das vendas no varejo dos Estados Unidos em maio, que devem ter crescido pelo segundo mês consecutivo, em +0,3% na comparação com o mês anterior. Ainda no calendário norte-americano, às 11h saem os estoques das empresas em abril. Mas o grande destaque é o início da reunião de dois dias do Fed. Dados de inflação no Reino Unido e sobre a atividade industrial no Japão e na zona do euro iniciam o dia de divulgações.
Os indicadores econômicos dividem a atenção com o noticiário político no Brasil. Afinal, o Conselho de Ética deve votar hoje o relatório que defende a cassação do mandato do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. A reunião está marcada para as 14h30, mas ainda pode ser adiada para amanhã. Em outro front, a Justiça Federal do Paraná pediu a suspensão dos direitos políticos dele por 10 anos, ainda por causa dos esquemas de corrupção na Petrobras.
Nos bastidores, o Palácio do Planalto não vê a hora de tirar Cunha de cena. O receio do governo interino e do PMDB é de que ele possa se vingar de Michel Temer e seu partido, atirando acusações contra todos. A avaliação é de que, após dar início ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, Cunha, agora, tornou-se um fator que só atrapalha.
Aliás, a comissão especial do impeachment no Senado volta a se reunir hoje para ouvir testemunhas do processo de afastamento de Dilma. Há um intuito para que a fase de depoimentos seja encerrada nesta sexta-feira, o que levou a dispensa de quatro testemunhas, provocando revolta entre os aliados dela.
Porém, o processo pode estar longe de terminar, já que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski, decidiu ontem acatar o pedido da defesa e realizar um perícia contábil sobre os fatos que motivam a denúncia contra Dilma. O requerimento havia sido rejeitado pela comissão. Para Lewandowski, a perícia "guarda relação direta com as teses da defesa".
Em outra decisão do STF, o ministro Teori Zavascki decidiu anular parte da interceptação telefônica feita pela Operação Lava Jato envolvendo Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva, mas enviou as investigações contra o ex-presidente para o juiz federal Sergio Moro. Para Teori, o grampo, que foi veiculado maciçamente pela imprensa, foi ilegal.