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O que será que será?


Os mercados brasileiros devem festejar a abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, com o avanço do processo para o Senado trazendo um alívio temporário aos negócios. O otimismo dos investidores por mudanças na situação política e econômica do país deve derrubar o dólar e içar a Bovespa, para perto de R$ 3,40 e dos 60 mil pontos, respectivamente, em uma primeira reação (e comemoração).

Mas a vitória da oposição ontem, por 367 votos a favor do impeachment e 137 contra, não garante nenhum céu de brigadeiro nos ativos domésticos até o fim do dia (e/ou nos próximos). Afinal, como os mercados já vinham se antecipando, e muito, ao resultado de domingo, torna-se iminente (e previsível) uma realização de lucros.

Até porque ao sair da Câmara e ir ao Senado, há um corredor extenso entre as duas Casas, que pode prolongar em até dois meses a destituição definitiva (ou não) de Dilma do cargo. Para o vice-presidente, Michel Temer, "agora é que vem a parte mais difícil". A partir de hoje, ele deve dar início às primeiras sondagens para montar sua futura equipe, mas a presidente ainda pode tomar medidas.

Dilma deve se reunir com o diretório do PT amanhã, quando será discutida uma proposta de redução do seu próprio mandato, a ser enviada ao Congresso Nacional, convocando novas eleições presidenciais neste ano, junto com as municipais. A ideia é de que ela abra mão de dois anos da Presidência, mesmo que o impeachment não seja consumado pelos senadores.

Assim, independentemente da decisão dos parlamentares, a Bolsa tem um largo espaço para devolver boa parte da alta em torno de 40% acumulada em dólar neste ano, já que a queda da atividade brasileira e os demais fundamentos econômicos irão, sem dúvida, deteriorar o balanço financeiro de muitas empresas. Afinal, quando se olha para a economia real, há bons motivos para colocar no bolso todo o ganho acumulado no prêmio de risco brasileiro.

Já o Banco Central pode ter sua artilharia testada em meio à queda de braço com o mercado, que deve operar pesado contra o dólar, apesar de a autoridade monetária ter mostrado desconforto com a cotação abaixo de R$ 3,50. De qualquer forma, será bom para o BC acelerar o desmonte do estoque de swaps cambiais tradicionais.

Na melhor das hipóteses, deve haver muita volatilidade – tanto no câmbio quanto nas ações locais. Assim, o sinal negativo vindo dos mercados internacionais - nas bolsas de Nova York, europeias e asiáticas; nas moedas rivais em relação ao dólar e nas commodities industriais, com o preço do barril de petróleo sendo negociado no menor nível em dois meses - pode definir o rumo do pregão doméstico desta segunda-feira.

A queda do petróleo ao redor de 5%, após falhar o acordo diplomático em Doha entre os países produtores sobre o congelamento da produção da commodity, deve ser a senha dos investidores para a derrocada dos ativos locais hoje, em linha com as perdas das ações no exterior, com as petrolíferas em destaque de queda, assim como as moedas de países produtores e exportadores de petróleo, como os dólares australiano e canadense, além da coroa norueguesa e do ringgit malaio. A Bolsa e o real brasileiros devem seguir esse rumo, pois já subiram de maneira relevante em 2016.

E o mercado acredita que foi o impeachment sozinho que fez tudo isso. Ledo engano. Como se sabe, esse movimento local foi alimentando por um colchão de liquidez criado pelas condições monetárias amplamente expansionistas dos principais bancos centrais do mundo. São as taxas de juros perto ou abaixo de zero e os estímulos artificiais que sustentam um apetite pelo risco global, alimentando um rali em bolsas, commodities e moedas pelo mundo - com boa parte desses recursos alocados no Brasil.

A comunicação recente do Federal Reserve, que se mostra dividido quanto à próxima alta dos juros nos Estados Unidos, porém com uma ligeira vantagem entre os integrantes mais moderados (“dovish”), conduz esse fluxo especulativo ao risco. Contudo, basta o Fed ameaçar apertar o botão para ativar uma nova alta nos juros norte-americanos para que toda essa euforia se desmorone – incluindo na Bovespa e no real, com os recursos migrando para a proteção nos títulos dos EUA (Treasuries).

A questão é que o foco concentrado no noticiário político desviou a atenção para alguns indicadores econômicos domésticos encorajadores, como a perda de força da inflação (mensal e acumulada em 12 meses) e uma melhora considerável do superávit da balança comercial. Contudo, o lado fiscal continua uma bagunça. A ironia é que, apesar de toda a crise instaurada em Brasília, consertar a economia é algo relativamente fácil.

A receita é simples: precisa-se de uma política fiscal austera, taxa de juros mais baixa, moeda fraca e reformas estruturais capazes de elevar a poupança e os investimentos, respingando na produtividade. O problema é que o modo de fazer requer medidas impopulares no curto prazo e um pouco mais de sofrimento por parte da população.

E, ao que tudo indica, nem o vice-presidente Michel Temer nem a antiga oposição (agora situação) parecem ter vontade e capital político para cumprir tal agenda. O discurso de Temer convocando uma união nacional não quebra o desencanto da sociedade com a classe política como um todo e tampouco diz o que será seu governo.

Desse modo, uma questão mais prática é: agora que a Dilma saiu, o que vem a seguir?

Diante da impressão, em uma fatia relevante da opinião pública, de que a oposição avançou para a tomada de poder a fim de se proteger - em especial o próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que deve seguir com seu mandato até 2017 - e colocar em pauta leis que ferem boa parte dos direitos conquistados a duras penas, o Brasil pode estar à beira de uma crise constitucional sem precedentes, resultado de uma falta de liderança e de uma disfunção completa do governo – em todas as suas esferas.

Assim, tudo pode acontecer nos mercados nesta segunda-feira – inclusive nada.

É bom lembrar que a semana é encurtada pelo feriado nacional de Tiradentes, na quinta-feira, o que emenda a sexta-feira com o fim de semana. Com isso, a divulgação de indicadores econômicos domésticos fica concentrada até quarta-feira, quando saem a prévia da inflação oficial no país em abril, medida pelo IPCA-15, os números sobre o desemprego em fevereiro, medidos pela Pnad, e a nota do setor externo do Banco Central.

Também são esperados os números do índice de atividade econômica do BC (IBC-Br) em fevereiro e do cadastro geral de empregados e desempregados (Caged) com carteira assinada no Brasil em março.

No exterior, a temporada de balanços nos Estados Unidos ganha força, com mais de 100 empresas listadas no S&P 500 divulgando seus resultados financeiros ao longo da semana. Os destaques ficam com os bancos Morgan Stanley e Goldman Sachs, as operadoras de cartão de crédito Visa e Amex, além das gigantes de tecnologia Microsoft e Intel, e das empresas de consumo PepsiCo, Coca-Cola e McDonald’s.

Entre os dados econômicos norte-americanos, são poucos destaques. O calendário reserva números sobre o setor imobiliário de hoje até quarta-feira, além do índice de atividade na Filadélfia e dos indicadores antecedentes, na sexta-feira.

No front político, as primárias de Nova York acontecem amanhã e podem ser decisivas para as pretensões da candidata republicana Hillary Clinton para o pleito de novembro. A agenda também está mais fraca na Ásia e não traz nenhuma divulgação relevante, capaz de influenciar nos negócios.

Já na Europa, as atenções se voltam para uma nova reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, sendo que o presidente da instituição, Mario Draghi, pode adotar novos estímulos após o verão (no Hemisfério Norte). Dados sobre a atividade nos setores industrial e de serviços da zona do euro estão previstos para a semana.


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