Sorte ou revés?
A aposta de que a onda do impeachment, que parecia estar perdendo força, pode voltar a se formar tenta animar os mercados domésticos. Mas a cada notícia que tende a efervescer esse movimento, surge um revés, aguçando o vaivém dos negócios. A contagem do número de votos de deputados a favor e contra a saída da presidente Dilma Rousseff e a abertura do processo também contra o vice-presidente, Michel Temer, testam os nervos dos investidores, deixando um terreno fértil para as especulações.
Enquanto isso, no exterior, os mercados ensaiam uma recuperação, apoiada na melhora dos preços do barril de petróleo. A commodity avança na faixa de 3% nesta manhã, em meio ao otimismo de que deve ser alcançado um acordo para interromper a produção, após indicações do Kuwait, ainda que o Irã não faça parte do pacto.
As ações de energia conduziram as bolsas da Ásia e da Europa em alta, embaladas pelos ganhos em Nova York. O sinal positivo prevalece em Wall Street, a despeito da derrota dos principais candidatos, Donald Trump e Hillary Clinton, nas primárias de Wisconsin, que deu vitória aos franco-atiradores Ted Cruz e Bernie Sanders.
Os mercados emergentes, porém, registram perdas, em linha com a tímida queda de 0,08% da Bolsa de Xangai, diante dos sinais de que Pequim estaria forçando uma desvalorização mais firme do yuan chinês. A estratégia do Banco Central da China (PBoC) parece ser de manter a moeda local apreciada em relação ao dólar, ao mesmo tempo que permite uma queda ante as divisas dos países parceiros comerciais, a fim de reanimar as exportações.
As moedas de países emergentes não têm uma direção única, com o rand sul-africano, o ringgit malaio e o peso mexicano subindo ante o dólar, ao passo que a moeda norte-americana ganha da rupia indiana e de moedas europeias, como o euro. Nas bolsas, o sinal também é misto, com os ativos de nações em desenvolvimento devolvendo os ganhos após registrarem em março o melhor mês desde 2009.
A percepção é de que o movimento só deve voltar a ganhar força após os investidores avaliarem as perspectivas para as taxas de juros norte-americanas. E a ata do Federal Reserve, às 15 horas, é o grande destaque da agenda econômica do dia.
O documento pode trazer pistas sobre o momento em que a autoridade monetária espera promover as duas altas nos juros dos Estados Unidos neste ano. No encontro de março, o Fed reduziu, de quatro para duas, a previsão do total de apertos na taxa básica a serem promovidos em 2016. Porém, o BC norte-americano pode revisar esse prognóstico, após o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisar que deve piorar as estimativas para o crescimento econômico global de 2016, na semana que vem.
Assim, se a aversão de risco não aumentar por conta de alguma ruptura mais séria, principalmente na China, parte da liquidez global injetada pelas políticas heterodoxas nas maiores economias do mundo deve continuar vindo para o Brasil - e outros países emergentes, com o fluxo de recursos externo efervescendo a onda política.
Internamente, a atenção de hoje se volta para a apresentação do parecer do relator do processo contra o mandato de Dilma. Uma reunião da comissão especial está marcada para as 14 horas, na Câmara dos Deputados, quando deve ser analisado o parecer, a ser apresentado pelo deputado Jovair Arantes. Segundo ele, o “contradito” deve ter de 80 a 90 páginas, discorrendo ponto a ponto entre acusação e defesa.
A peça de Arantes não deve incluir qualquer informação dos depoimentos prestados, seja pelos juristas autores da denúncia contra Dilma, seja pelas testemunhas de defesa ou pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. Segundo o deputado, essas pessoas foram chamadas apenas para esclarecer os fatos e as explicações são “perfumaria”.
Desse modo, é possível que haja um pedido de vista para analisar o documento, o que jogaria a sessão de debates para sexta-feira e a votação para a próxima segunda-feira (dia 11). Já a agenda econômica no Brasil está novamente fraca e traz indicadores antecedentes sobre o emprego (8h) e a indústria automotiva (11h), além dos números semanais do fluxo cambial (12h30). O índice de commodities Brasil (IC-Br) também sai às 12h30.