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Corrupção não é exclusividade tupiniquim


O impeachment da presidente Dilma Rousseff já não é mais a única opção na mesa dos mercados financeiros, agora que a investigação internacional Panama Papers mostrou que a corrupção não é uma exclusividade tupiniquim e que o mundo de políticos, criminosos e celebridades se unem para distribuir entre eles a riqueza global. O vazamento de documentos do escritório de advocacia daquele país da América Central, Mossack Fonseca, mostrou a criação de empresas de fachada (offshore) para esconder as finanças dos envolvidos.

O primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson, foi uma das primeiras vítimas do escândalo da série Panama Papers, que começou a ser publicada ontem por toda a imprensa no mundo. Gunnlaugsson deve enfrentar um voto de confiança no Parlamento do país, após ter ele e sua esposa terem sido alvo da investigação jornalística, por deterem secretamente uma empresa offshore. A saída deve ser o pedido de eleições antecipadas.

O vazamento expõe outras lideranças globais, como os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jiping; além de celebridades como o jogador de futebol Lionel Messi e o ator Jackie Chan. Entre os brasileiros, estão envolvidos o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa.

Por ora, o escândalo sobre empresas em paraísos fiscais que mostra a existência de, pelo menos, 107 empresas offshores e o vazamento gigante de mais de mais de 11,5 milhões de registros financeiros, não influencia nos negócios. Mas à medida que os 2,6 terabytes de arquivo de dados tornarem-se públicos, o efeito nos mercados financeiros pode aumentar.

O feriado na China nesta segunda-feira esvaziou a sessão de negócios na Ásia, mas as apostas de que o Federal Reserve não deve agir, por ora, tenta manter elevado o apetite por risco. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ligeiros ganhos, assim como as principais bolsas europeias, após as chances de um aperto dos juros norte-americanos neste mês caírem para zero.

Contudo, o preço do barril de petróleo cai ao redor de 1%, o que inibe os ganhos dos ativos. De qualquer forma, esse viés positivo deve ser um prato cheio para as especulações no mercado doméstico. Afinal, o cenário político entra em uma fase decisiva e a onda do impeachment, que parecia estar perdendo força, pode voltar a se formar.

A presidente Dilma Rousseff deve apresentar hoje sua defesa no processo contra o seu mandato, após a Câmara dos Deputados garantir realização de sessões da comissão especial todos os dias úteis – algo incomum entre os parlamentares. Uma sessão extraordinária está marcada para esta segunda-feira, o que assegura o fim do prazo de entrega das alegações.

A defesa de Dilma deve ser entregue no fim da tarde, por volta das 17 horas, pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. Ele deve falar por 30 minutos para fazer considerações sobre o documento.

Feita a entrega da defesa de Dilma, o relator da comissão, deputado Jovair Arantes, tem até cinco sessões plenárias para fazer um parecer, a ser votado pelo colegiado. Mas na sexta-feira passada, ele já se pronunciou dizendo que vai antecipar a apresentação do documento para quinta-feira, quatro dias antes do fim do prazo.

Isso porque, o desejo do relator é estar com o parecer votado até a segunda-feira da semana que vem (dia 11). Quarenta e oito horas depois de o parecer sobre a denúncia ser publicado, o documento será incluído na "ordem do dia" da Câmara, quando será votado, nominalmente, por 512 deputados.

A abertura do processo de impeachment de Dilma será autorizada pela Casa, caso o pedido tenha pelo menos dois terços dos votos (342) e, então, será encaminhado ao Senado, que é responsável pela tramitação do processo. Se os deputados decidirem que a denúncia não deve ser objeto de deliberação, o pedido de impeachment é arquivado.

Essa hipótese se configuraria em um cenário de pior dos casos para os mercados domésticos, contrariando a visão positiva dos investidores, inclusive estrangeiros. Apenas no mês de março, os “gringos” colocaram ao redor de R$ 8 bilhões na renda variável brasileira, na maior entrada mensal de recursos externos da história da Bovespa. No ano, o saldo de capital já supera R$ 10 bilhões.

Esse fluxo ajudou a derrubar o dólar para abaixo de R$ 3,60, em meio às apostas de que Dilma será afastada do cargo em breve. Mas a mesma política que incrementou o mês de março pode não se tornar realidade em abril, o que tende a redobrar a cautela nos negócios até que o desfecho seja conhecido.

A chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto pode turvar esse cenário. No fim de semana, Lula afirmou que, "se tudo der certo", na quinta-feira ele assume um ministério no Governo Dilma. A decisão ainda precisa ser aprovada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve julgar a liminar do ministro Gilmar Mendes no dia 7.

Entre os indicadores econômicos, destaque apenas para a inflação oficial no país, medida pelo IPCA, em março. O dado será divulgado na sexta-feira e deve apresentar nova desaceleração da alta dos preços em base mensal, agora para a faixa de 0,50%. Ainda assim, a taxa no acumulado em 12 meses deve seguir acima de 10%. Um dia antes, sai o IGP-DI do mês passado.

Números dos gerentes de compras (PMI) sobre a atividade no setor e de serviços marcam este início de semana, no Brasil e no exterior. Hoje, saem a taxa de desemprego e os preços ao produtor (PPI) na zona do euro em fevereiro, pela manhã, além das encomendas à indústria norte-americana (11h) no mesmo mês.

Mas o destaque nos Estados Unidos fica com a divulgação da ata da reunião de março do Federal Reserve, na quarta-feira. Na região da moeda única, a ata do encontro do mês passado do Banco Central Europeu (BCE), quando adotou novas medidas de estímulo, será divulgada na quinta-feira.


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