Balanço da Petrobras em foco, em dia de aversão no exterior
Os contágios da Lava Jato não se restringem apenas ao âmbito político no Brasil e atingem em cheio a Petrobras. Pelo segundo ano consecutivo, a estatal petrolífera registrou prejuízo líquido, de quase R$ 35 bilhões, perdas ainda maiores que as verificadas em 2014, quando as baixas contábeis resultaram em um saldo negativo de R$ 21,6 bilhões. Em Wall Street, o recibo de ação (ADR) da companhia despencaram 10% em reação ao balanço e esse comportamento deve ser replicado nos papéis negociados na Bovespa - a não ser que os executivos da empresa tragam alguma surpresa na teleconferência, às 10 horas.
No exterior, o ambiente tampouco está propenso ao risco, após duas explosões no aeroporto internacional de Bruxelas, na Bélgica, onde, na semana passada, foi capturado um terrorista ligado aos ataques de Paris. Ainda não se sabe o motivo das explosões, mas tiros foram disparados no local e ouve gritos em árabe pouco antes dos estouros. Há pelos menos 10 mortos e cerca de 20 pessoas feridas.
Com o terrorismo voltando a assustar os mercados internacionais, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho e as principais bolsas europeias já recuam mais de 1%. O dólar, por sua vez, se fortalece, em meio à busca por proteção dos investidores, ao passo que o petróleo tem leve perda, mas segue acima de US$ 41 o barril. Na Ásia, o sinal foi misto, Tóquio subiu (1,94%), mas Xangai caiu (-0,64%) e Hong Kong ficou de lado (-0,08%).
Na agenda econômica, dados de atividade recheiam o dia. Na zona do euro, pela manhã, sai a leitura preliminar de março do índice dos gerentes de compras (PMI) dos setores da indústria e de serviços. Ainda na região da moeda única, também serão conhecidos índices sobre o sentimento econômico.
Fora da área do euro, o Reino Unido anuncia dados sobre os preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI), além de números sobre o setor imobiliário e sobre as contas do governo britânico. Já nos EUA, saem índices de preços de imóveis em janeiro (10h) e a prévia do PMI da Markit sobre a atividade industrial neste mês (10h45).
Internamente, os mercados domésticos não devem relegar essa aversão vindo do exterior, mas a política tende a seguir ditando o rumo dos negócios, com os investidores à espera de novas notícias no front. A questão é que velocidade das novidades pode ser lenta, prolongando posições nos ativos, à espera de um desfecho.
Nessa judicialização da política, o Supremo Tribunal Federal (STF) está repleto de ações, e ficou a cargo da ministra Rosa Weber julgar o pedido feito por Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende anular a decisão do ministro Gilmar Mendes, que suspendeu a posse do ex-presidente como ministro da Casa Civil.
Enquanto a política segue sem ajudar a economia, o mercado de trabalho continua como a principal vítima. Com o governo ainda sem conseguir estancar a alta do desemprego e a queda da renda, os números do Caged de hoje (15h) sobre as vagas formais no país devem mostrar a eliminação de 50 mil postos em fevereiro, no único dado doméstico da agenda desta terça-feira.
Aliás, a previsão é de que o Brasil irá amargar o fechamento de mais 1,5 milhão de empregos com carteira assinada neste ano. Trata-se de um quadro que necessita de urgente estabilização, mas que, conforme palavras do ministro Nelson Barbosa (Fazenda), depende de maior civilidade no debate político, pois esses “problemas econômicos não vão se resolver a partir de uma mudança política extremada”.
Enquanto isso, nos bastidores, cresce o “burburinho” sobre movimentações em torno da formação de um futuro governo de transição, caso se concretize a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo. O vice-presidente da República nega que esteja em tratativas com o PSDB, mas no mercado, as apostas são de que um novo governo emergirá em breve – comandado pelo PMDB de Michel Temer.
Mas, nessa disputa pelo poder, não se pode esquecer a ação de impugnação da chapa vencedora em 2014, impetrada pela oposição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que segue em andamento e que será julgada pelo ministro Dias Toffoli, presidente da Corte. Nesse caso, o terceiro na linha sucessória da Presidência é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, réu na Operação Lava Jato, por unanimidade no STF.
Ontem, aliás, os advogados dele apresentaram a defesa ao Conselho de Ética, o que dá continuidade ao processo que pode cassar o mandato do deputado. Agora, o relator tem até 40 dias úteis para ouvir até oito testemunhas (de acusação e de defesa, cada) e colher documentos e informações. Uma reunião hoje, às 9h, deve iniciar a nova fase dos trabalhos.
Em outro processo na Casa, o relator do impeachment de Dilma, o deputado Jovair Arantes, disse que a delação do senador Delcídio do Amaral será analisada na formulação do relatório contra o mandato da presidente. Em reação, o PT afirmou que, se a delação for incluída, recorrerá ao STF, já que as acusações não fazem parte do processo inicial.