China traz alívio, mas política mantém cautela
O último trimestre de 2015 começa com um alívio nos mercados internacionais, diante dos sinais de estabilização da atividade industrial da China no nível mais baixo em três anos. As ações e as commodities avançam ao redor do mundo, assim como as moedas de países emergentes, após a leitura oficial do PMI do setor chinês subir mais que o esperado, a 49,8 em setembro. É sob esse ambiente de tomada de risco que os negócios locais abrem hoje, mas o ambiente político deve manter a cautela entre os investidores.
Aguardado para esta quinta-feira, o anúncio oficial da reforma administrativa que a presidente Dilma Rousseff está propondo pode sair somente amanhã, disse ontem à noite, o vice-presidente da República, Michel Temer. Segundo ele, ainda "tem muita coisa para ser resolvida", em meio à tentativa de Dilma de acomodar os aliados no novo desenho político da Esplanada.
Hoje, ela tem apenas compromissos internos, mas deve continuar a negociação nos bastidores. Afinal, a saída de Aloizio Mercadante da Casa Civil, sendo substituído pelo ministro da Defesa, Jacques Wagner, ainda precisa ser confirmada. Por ora, de concreto, apenas a conversa "cordial" de Dilma com Renato Janine Ribeiro, que selou a saída dele da Pasta à frente dos projetos da "pátria educadora".
Enquanto aguardam novidades do Palácio do Planalto, os agentes também monitoram os movimentos no Legislativo e no Judiciário em relação à pauta do impeachment da presidente Dilma. Após o arquivamento de três pedidos de abertura de processo, ainda restam outras 10 solicitações sobre as quais o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, terá de tomar uma decisão.
Ele, por sua vez, está sendo investigado pela existência de contas, em seu nome e também de familiares, na Suíça. A investigação criminal já foi transferida ao Brasil, a pedido da Procuradoria-Geral da República. Além disso, depois de obstruir a sessão do Congresso Nacional, ontem, Cunha afirmou que "nada impede" a análise dos vetos presidenciais na próxima terça-feira. Afinal, o prazo para que mudanças na legislação sobre os vetos ao financiamento privado e voto impresso acaba amanhã.
Esse noticiário político deve permear os mercados domésticos, já que a agenda econômica do dia está mais fraca. Às 10 horas, o Banco Central divulga o relatório semestral sobre a situação financeira referente ao primeiro semestre de 2015. Às 11 horas, a Confederação Nacional da Indústria anuncia os indicadores industriais de agosto e, às 15 horas, saem os dados da balança comercial no mês passado. Há, ainda, a o tradicional leilão de títulos públicos do Tesouro Nacional.
Já no exterior, o sinal positivo predomina entre os ativos de risco, após o índice oficial dos gerentes de compras (PMI) da China subir a 49,8 em setembro, ante previsão de a 49,7. O PMI calculado pela Markit/Caixin também mostrou melhora, avançando a 47,2, de 47 na leitura preliminar, que era a mais baixa desde 2009.
A partir deste mês, o índice PMI da Markti patrocinado pela Caixin Media será descontinuado, na segunda mudança sobre o indicador chinês, após a interrupção do cálculo também pelo HSBC. As bolsas de Xangai e de Hong Kong, contudo, permaneceram fechadas hoje, devido a um feriado nacional, sendo que os ganhos na região Ásia-Pacífico foram liderados pelos mercados em Tóquio (+1,92%) e na Austrália (+1,80%).
Portanto, os investidores restauram a confiança nos negócios, enquanto aguardam os índices PMI e ISM sobre a indústria nos Estados Unidos, às 10h45 e às 11h, respectivamente, em busca de pistas sobre o fortalecimento da maior economia do mundo. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos, ao passo que a precificação de alta dos juros norte-americanos em dezembro segue abaixo de 50%, em meio ao ceticismo com as declarações da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen.
Na Europa, o PMI da manufatura da zona do euro foi confirmado em 52, abaixo do dado de 52,3 em agosto, o que reforça as apostas por novos estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu (BCE). O euro se enfraquece ante o dólar. O iene e as Treasuries perdem atratividade, uma vez que a demanda por refúgio diminui.
Já as moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities ganham terreno hoje, na esteira da melhora do dado chinês. Os dólares australiano e neozelandês são destaque de alta, assim como o rublo russo, que retoma o nível mais alto em um mês diante do fortalecimento nos preços do petróleo. As commodities metálicas também mostram vigor.
O índice MSCI de mercados emergentes estende a recuperação da véspera, o que pode beneficiar a Bovespa, que ontem acumulou as maiores perdas trimestrais desde o segundo trimestre de 2013, na faixa de -15%. O dólar, porém, liderou os investimentos no mês passado, com uma valorização de quase 10%, embora a cotação ontem tenha encerrado abaixo da marca de R$ 4,00.