Setembro chega ao fim sob tensão
O mês de setembro chega ao fim com os mercados financeiros no exterior caminhando para as maiores perdas no trimestre em anos. Ainda assim, a quarta-feira é de recuperação entre os ativos, o que diminui parte da desvalorização acumulada por causa de incertezas com China e o Federal Reserve. No Brasil, o que já prometia ser um dia D na crise política tornou-se ainda mais decisivo. Já a Petrobras mostrou maior autonomia e anunciou aumento nos preços dos combustíveis, a partir da meia-noite de hoje.
Diante dos problemas de caixa da estatal petrolífera e na esteira da perda do selo de bom pagador pela Standard & Poor's, a Petrobras decidiu reajustar em 6% o preço da gasolina e em 4% o do óleo diesel, nas refinarias - o que não incluem os tributos federais e estadual. O reajuste nas bombas dos postos é livre, mas, em geral, o repasse ao consumidor tem sido menor.
A empresa informou o aumento por meio de comunicado, ontem à noite, o que reflete a liberdade da estatal na definição da política de preços dos combustíveis. Mas a política que interessa aos investidores é a que vem sendo negociada no Congresso, após o confronto aberto entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e o da Câmara, Eduardo Cunha, por causa do projeto de lei de reforma política publicado ontem pela presidente Dilma Rousseff.
Diante dos vetos presidenciais ao financiamento privado e ao voto impresso, a intenção de Cunha é apreciar, inclusive, este últimos, em sessão na Casa a partir das 9 horas. Já Renan marcou uma sessão conjunta no Congresso para as 11 horas, mas que só pode ter início se o plenário de deputados não estiver ocupado.
Mas o foco dos mercados domésticos na pauta do Legislativo é na apreciação de dois vetos a pautas-bombas que criam despesas bilionárias, e que precisam ser desarmadas. Um concede reajuste polpudo aos servidores do judiciário; o outro estende a todos os aposentados do INSS o reajuste anual do salário-mínimo. Para conseguir a manutenção dos vetos, Dilma precisa dos votos da base aliada.
Hoje, ela reúne-se, às 10 horas, com os governadores Ricardo Coutinho (PB), Rodrigo Rollemberg (DF), Paulo Câmara (PE). Por sua vez, a agenda oficial do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda não estava disponível, ao passo que alguns diretores do Banco Central participam de reuniões fechadas à imprensa.
Entre os indicadores econômicos, a quarta-feira reserva os números fiscais do BC (10h30), que podem trazer novas surpresas, após o déficit primário do governo central bem abaixo do esperado em agosto. Às 12h30, a autoridade monetária informa os dados do fluxo cambial, que podem apontar se, de fato, não há saída de recursos estrangeiros do país, em meio à crise de confiança.
Antes, às 8 horas, a FGV traz sondagens do comércio e do setor de serviços no mês passado. Mas é a agenda no exterior que chama a atenção, pois hoje sai a pesquisa ADP sobre a criação de postos de trabalho no setor privado dos Estados Unidos - tido como uma prévia do relatório oficial de emprego no país (payroll), que sai na sexta-feira.
O dado será conhecido às 9h15. À espera dos números, que podem calibrar as apostas sobre os próximos passos do Fed, os futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos acelerados, na faixa de 1%, buscando uma recuperação em Wall Street, onde os índices acionários testam níveis gráficos importantes.
O sinal positivo também prevaleceu na Ásia e predomina na Europa, ofuscando a "sangria" que de fato foi o mês de setembro e, principalmente, o terceiro trimestre deste ano. O índice europeu Stoxx 600, por exemplo, caminha para a pior performance trimestral em quatro anos, com perdas de quase 10% desde julho. Já o índice MSCI da Ásia-Pacífico tombou 16% desde o fim de junho, rumo à maior queda desde 2008.
Mas o mercado imbatível, em termos de perdas, é o da China. A Bolsa de Xangai despencou nada menos que 29% entre julho e setembro de 2015, no pior desempenho trimestral entre todos os mercados acionários no mundo. Hoje, porém, o índice Xangai Composto subiu 0,48%, na última sessão da semana antes de um longo feriado no país. À noite, porém, ainda serão conhecidos os índices PMI sobre a indústria chinesa.
Entre as moedas, o Dollar Index avança nesta manhã, refletindo a depreciação de várias divisas, principalmente as asiáticas e de países emergentes. Os destaques ficam com o dólar de Cingapura, que acumula a maior queda trimestral em quatro anos, tendo a companhia do ringgit malaio, que segue no menor nível desde 1998. No mesmo período, a rupia indonésia caiu mais de 9%, o baht tailândes cedeu 7% e o yuan chinês caiu 2,4% - na maior queda em três meses desde o fim de março de 2014.